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Livro analisa consequências da ‘guerra ao terror’ no Afeganistão e no resto do mundo

Em nome dos interesses do complexo industrial militar, país foi devastado pelo poderio dos Estados Unidos, afirma Reginaldo Nasser, autor de “A luta contra o terrorismo: os Estados Unidos e os amigos talibãs”

Jake Helgestad/Fotos Públicas Invasão dos Estados Unidos ao Afeganistão resultou na morte de cerca de meio milhão de civis afegãos

Da Rede Brasil Atual - Para o professor livre-docente de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Reginaldo Nasser, são “cínicas” as críticas da imprensa dirigidas ao presidente Joe Biden por conta do “caos” ocorrido nos arredores do aeroporto de Cabul durante a retirada da tropas estadunidenses do país no mês passado. Tragédia, segundo ele, foram os 20 anos de ocupação estrangeira, que resultou na morte de centenas de milhares de civis afegãos. Já o retorno do Talibã ao poder no Afeganistão indica o fracasso da chamada “guerra ao terror”, empreendida pelos Estados Unidos após os atentados de 11 de Setembro de 2001.

“Tragédia foram os 20 anos de ocupação norte-americana, não só no momento da retirada”, disse Nasser, em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual. “Foram cerca de 500 mil mortos, não se sabe ao certo, uma tragédia para o povo afegão.” Nasser é autor do livro recém-lançado intitulado A luta contra o terrorismo: os Estados Unidos e os amigos talibãs (Ed. Contracorrente). A obra percorre a história do país asiático, desde o fim da ocupação soviética, encerrando mais de um século de tentativas de dominação imperialista, até a invasão norte-americana e sua recente retirada. Também detalha a ascensão do Talibã após a saída das tropas soviéticas. Concomitantemente, o Afeganistão também passou a servir de abrigo a grupos jihadistas e terroristas, como a Al-Qaeda, de Osama Bin Laden, que passaram a ter os Estados Unidos como alvo principal. Nasser afirma que os ataques de 11 de Setembro serviram como “subterfúgio” para justificar as invasões do Afeganistão e do Iraque e tais guerras atenderam aos interesses do chamado “complexo militar-industrial”, capaz de ditar os rumos da política do país. As ações militares nesses dois países consumiram a astronômica soma de US$ 8 trilhões nos últimos anos.

Islamofobia e o falso ‘choque de civilizações’

Dentre as consequências negativas da guerra ao terror, Nasser também destaca o avanço da islamofobia ao redor do mundo. Até mesmo países como China e Rússia, rivais dos Estados Unidos no tabuleiro internacional, utilizaram o discurso de combate ao terrorismo para reprimir minorias islâmicas em seus territórios.

O autor aponta que o conceito de “choque de civilizações”, elaborado pelo cientista político estadunidense Samuel P. Huntington, serviu de base ideológica para a guerra ao terror. O acadêmico advogava a ideia de uma relação irreconciliável entre os países islâmicos e o mundo ocidental. No entanto, Nasser aponta que, nos últimos 20 anos, 75% das vítimas de atentados terroristas eram cidadãos dos próprios países de maioria islâmica, como Iraque, Síria, Iêmen e Indonésia.

“Estes números apontam para um problema no interior dessas sociedades, e não um choque com o Ocidente”, destacou. Por outro lado, a maior parte das mortes por terrorismo nos Estados Unidos decorreram de ações realizadas por grupos internos de extrema-direita.

Liberdade vigiada

O livro também detalha como os Estados Unidos usaram a guerra ao terror para restringir liberdades individuais. Ato contínuo aos atentados, os congressistas estadunidenses aprovaram a chama Lei Patriota (Patriot Act). Dentre outras medidas, o dispositivo autorizou a interceptação telefônica de indivíduos suspeitos de terem relações com organizações terroristas. Segundo Nasser, a população dos Estados Unidos foi obrigada a abrir mão das liberdades individuais em troca da promessa de segurança.

A prisão mantida pelos Estados Unidos na baía de Guantánamo, em Cuba, é outra chaga criada em nome do combate ao terrorismo que permanece aberta. Para lá, foram enviados indivíduos de diversas nacionalidades suspeitos de integrarem organizações terroristas. No entanto, a eles eram negadas garantias legais básicas, como o direito de constituir advogados e serem ouvidos por uma autoridade judiciária. A prisão de Guantánamo também ficou conhecida pelo emprego de técnicas de tortura, físicas e psicológicas, contra os detidos.


Fonte: Agência Brasil

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