GT do Açaí conclui trabalho e apresenta relatório com medidas para enfrentar crise da cadeia produtiva no Pará
- Equipe Rede Mundo
- 14 de out.
- 4 min de leitura

A estimativa de produção de açaí no Pará, em 2025, chega a quase 2 milhões de toneladas. A maior parte é destinada à indústria para exportação, mas o Pará possui um mercado interno que demanda um alto consumo, que depende da cadeia produtiva de produtores e batedores de açaí.
Essa cadeia produtiva do açaí enfrenta desafios estruturais marcados pela desigualdade e pela ausência quase total do Estado. É a conclusão do diagnóstico apontado pelo Relatório Final do Grupo de Trabalho sobre a Crise do Açaí no Pará, que foi apresentado nesta quarta-feira (08/10), na sala multiuso da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa).
O GT do Açaí, instituído pela Portaria nº 01/2025 da Comissão de Direitos Humanos, Defesa do Consumidor, da Pessoa com Deficiência, da Mulher, da Juventude, da Pessoa Idosa e das Minorias (CDHDC-Alepa), presidida pelo deputado Carlos Bordalo, teve 120 dias de trabalho para avaliar a Crise do Abastecimento de Açaí no Estado do Pará e propor encaminhamentos e soluções para as demandas identificadas.
“Esperamos que esse documento possa servir de subsídio para os debates sobre a cultura do açaí. Os efeitos do que foi apurado pelo GT do Açaí serão sentidos no futuro, porque falamos de um fruto que gera uma das dietas alimentares mais tradicionais e importantes do mundo, não apenas do Pará, pois o açaí garante segurança alimentar”, avaliou o deputado Carlos Bordalo.
O parlamentar destaca que “o açaí ocupa um mercado importantíssimo no exterior, mas sabemos que a indústria não está vocacionada para abastecer o mercado interno. Por isso, o papel do produtor e do batedor artesanal tem tanta relevância. Eles estão sendo convocados a serem os fornecedores de um estoque regulador para o consumo interno, para a nossa população”, finalizou o deputado.
Coletivo – O GT do Açaí foi composto por 38 instituições representando os diferentes segmentos da cadeia do açaí — entre elas, órgãos públicos, entidades de classe, cooperativas, produtores, empresas e organizações da sociedade civil, que propuseram mais de 60 recomendações foram listadas em três eixos, no relatório: produção, comercialização e Temas Transversais (Nutrição, Governança e Cultura), para garantir o abastecimento justo, o fortalecimento da produção familiar, o equilíbrio de mercado e a sustentabilidade ambiental da cadeia. As estratégias propostas devem ter impacto na vida não só de produtores e batedores de açaí, mas também das comunidades tradicionais e consumidores.
Segundo O gerente de fruticultura da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), engenheiro agrônomo Geraldo Tavares, “esse trabalho mostra a realidade do setor do açaí com um levantamento criterioso das dificuldades, desafios e soluções. A importância é colocar frente a frente a competência de cada instituição que integra a cadeia produtiva e suas responsabilidades na cadeia produtiva”. Ele lembrou que mesmo com o tarifaço imposto pelo governo americano – maior mercado para as exportações de açaí – no último ano o Pará aumentou a quantidade de açaí exportado em mais de 70%.
A vice-prefeita de Abaetetuba, Edileuza Muniz, ressaltou que “a produção do açaí ainda acontece como era feito há 50 anos e precisamos de investimentos nessa produção, para garantir que o açaí continue disponível para a população”.
Cristiano Martins, Secretário Adjunto de Agricultura Familiar (SEAF), elogiou o trabalho do GT do Açaí. “A partir do cenário de crise do açaí, se formou o espaço plural mais amplo para debater essa questão e colocar os produtores e batedores no mercado formal, como atores de destaque nessa cadeia produtiva que representa atualmente mais de 70 bilhões de reais na balança comercial brasileira, sendo que 95% da produção é paraense, só perde para o segmento da mineração em representatividade econômica”, avaliou.
Documentação - O relatório, com 117 páginas divididas em 12 capítulos, foi elaborado a partir da atuação de duas comissões técnicas e de uma coordenação geral, responsável pela sistematização das informações.
As comissões foram formadas por representantes das instituições participantes, que elaboraram planos de trabalho próprios alinhados ao cronograma geral do GT, a partir de escutas públicas, audiências e uma pesquisa on-line com questionários estruturados, voltados a ouvir quem conhece de perto o cotidiano da produção — trabalhadores, produtores, batedores e comunidades ribeirinhas. O levantamento abrangeu dezenas de municípios paraenses, entre eles Belém, Abaetetuba, Cametá, Afuá, Barcarena, Breves, Castanhal, Igarapé-Miri e Moju, com ampla participação da região Tocantina.
Contexto econômico - Segundo a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), entre 1987 e 2022, a produção nacional de açaí aumentou de 145 mil para 1,9 milhão de toneladas — crescimento superior a 13 vezes. De acordo com o IBGE, o Brasil é o maior produtor mundial de açaí, e o Pará responde por mais de 90% da produção nacional. Em 2023, o estado produziu cerca de 1,7 milhão de toneladas, envolvendo mais de 300 mil pessoas na cadeia produtiva — entre extrativistas, agricultores familiares, cooperativas e comerciantes. Aproximadamente 150 mil famílias dependem diretamente do manejo do açaí, atividade que também contribui para a conservação da floresta e a redução do desmatamento em áreas de várzea.
Reconhecimento – Ao final da apresentação do relatório do GT do Açaí, o deputado Carlos Bordalo entregou 47 certificados de participação para as instituições que contribuíram para o diagnóstico da cadeia produtiva do açaí e a elaboração do relatório final.
Fonte: Alepa




Comentários