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Desmandos de Bolsonaro abreviam vida de 70 mil. País tem 1,8 milhão de infectados


“A pandemia da Covid-19 não deixou nenhum país intocado. Ela humilhou a todos nós.” A frase, de Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), traduz bem a atual situação de penúria do planeta, que teve sua economia destroçada pera virulência do vírus e mais de meio milhão de vidas ceifadas. Mas poderia servir também de mea culpa para líderes de países onde pouco ou nada se fez para impedir a disseminação desenfreada da pandemia. Caso do Brasil e dos EUA, os dois maiores epicentros da doença, cujas populações ainda sofrerão muito com seu espectro aterrorizante em meses vindouros.


Dizendo-se contaminado pela Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro e sua omissão tornaram-se um símbolo vivo do caos e da destruição que assolam o país desde o início da crise sanitária: nesta sexta-feira (10), o Brasil atingiu a marca dos 70.398 mortos e 1.800.827 infectados, segundo dados do Ministério da Saúde. Apenas nas últimas 24 horas, foram registrados mais de 45 mil novos casos e 1.214 óbitos. Já os EUA bateram recorde de novos casos pela sexta em dez dias: Foram mais de 60 mil infecções catalogadas na quinta-feira (9).


Apesar da indicação de que a progressão dos óbitos no país parece ter atingido uma estabilidade, com uma média de mil mortes diárias, não há motivos para comemorações. Segundo o novo indicador utilizado pelo consórcio de imprensa, média móvel, 11 estados apresentam tendência de estabilidade na taxa de mortalidade, enquanto 5 estão em queda. Outros 9 estados, no entanto, apontam para um crescimento nos indicadores de mortos pela doença: Paraná, Rio grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Distrito Federal, Goías, Mato Grosso do Sul, Piauí e Rio Grande do Norte.


A situação é particularmente preocupante no Sul, onde um crescimento vigoroso de casos e mortes levou municípios a suspenderem a retomada das atividades. Nos últimos dois dias, o Estado bateu duas vezes o recorde de mortes por coronavírus. O Rio Grande do Sul contabiliza 919 óbitos e 37.490 casos. Minas também alerta autoridades. O estado anotou nesta sexta-feira 70 mil casos e mais de 1.500 mortes.


Média de mortes

Mesmo que todos os estados apresentassem queda na taxa de mortalidade, especialistas não recomendariam um relaxamento prematuro das medidas de distanciamento social. Em primeiro lugar porque o platô, a curva do número de mortes, estabilizou-se em um número alto, acima de mil óbitos. Também não há garantias de que uma eventual queda da mortalidade reflita uma diminuição das infecções.


“Os estados iniciaram políticas de isolamento no mesmo momento e tentaram relaxá-las simultaneamente, ignorando que o pico da pandemia não é sincronizado”, alertou o sanitarista da Fiocruz, Christovam Barcellos, em entrevista ao ‘ Globo’. “A média diária de mortes em todo o país é estável porque, enquanto a situação melhora em alguns estados, piora em outros. Registramos mais de mil casos fatais por dia. Isso é gravíssimo”, afirmou.


Ainda segundo o especialista, “a passagem do pico da doença gera um impacto psicológico de que o pior já passou, mas o coronavírus ainda está lá, principalmente entre os mais pobres e no interior”, disse. Além disso, segundo ele, “em todo o mundo, a curva de óbitos é assimétrica, desce do pico com uma velocidade muito menor do que chegou a ele”.


Falta diretrizes nacionais

Outro dado recente indica que o quadro pandêmico não poderia estar mais longe da normalidade. O último levantamento divulgado pelo Imperial College de Londres nesta semana, aponta que a taxa de contágio voltou a subir no país, passando de 1,03 para 1,11. Agora, cada 100 brasileiros contaminados podem infectar outras 111 pessoas, quadro considerado fora de controle pela instituição de pesquisa.


Segundo o doutor em Epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Paulo Petry, não há diretrizes nacionais para que governadores e prefeitos possam lidar em conjunto com o problema. “Perdemos dois ministros e não colocamos ninguém”, observou Petry, ao ‘Globo’. “O Executivo federal deveria correr atrás de insumos, medicamentos, criar novos leitos de UTI e ampliar a testagem”.


Hidroxicloroquina

Ao invés disso, Jair Bolsonaro apostou todas as fichas em uma droga que não apenas não tem comprovação de êxito no combate ao vírus, como pode deixar sequelas e até provocar a morte de pacientes. Dois dos possíveis efeitos colaterais decorrentes do tratamento com hidroxicloroquina são a perda de visão e arritmias cardíacas. O governo chegou a produzir 2,25 milhões de comprimidos da droga nos últimos três meses.


A falta de comprovação científica quanto à eficácia da droga levou o Tribunal de Contas da União (TCU) a questionar a decisão do goveno. O TCU abriu investigação por suspeita de superfaturamento nas compras do Exército. 18 acordos para compra de cloroquina em pó e outros insumos de fabricação, como papel alumínio e material de impressão, com custo total de R$ 1.587.549,81, estão na mira do Tribunal.


Parceiro de tragédia

Ao lado do Brasil no topo do trágico ranking mundial de casos e óbitos da doença, os EUA também não possuem motivo para baixar a guarda em relação à pandemia. Ao contrário. Nesta semana, bateu por duas vezes o recordes de novos registros da doença e voltou a ter alta nas mortes. 


De acordo com o jornal ‘ The New York Times’, a média de mortes por semana chegou a 608 na quinta-feira, contra 471 no início de julho. Apesar da alta, o número está bem abaixo dos óbitos de abril, quando chegaram a anotar até 2.200 por semana.


Segundo o diário americano, as autoridades esperavam que o vírus atingisse o pico nos EUA na primavera, quando estabeleceu um recorde de 36.738 novos casos em 24 de abril. Novos casos começaram a declinar inicialmente depois disso, mas continuaram em média mais de 20.000 um dia. No entanto, como os estados diminuíram as restrições e permitiram que mais empresas reabrissem, novos casos explodiram nas últimas semanas.


Especialistas advertiram que o número de mortos em declínio não deve mesmo durar, uma vez que mortes ocorrem semanas após a confirmação de novas infecções. Além disso, o vírus continua se espalhando, passando de pessoas mais jovens para idosos e outros grupos vulneráveis ​​ao vírus.


Como se vê, o verão americano de 2020 não terá o calor de tempos outrora luminosos. Assim como nosso inverno nunca pareceu tão gélido, cinzento e sombrio.


Fonte: Agência PT, com agências de notícias

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