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Bolsonaro em Belém não cita a Amazônia e dá carona a defensor do garimpo


Em dez minutos de discurso, o presidente que tenta a reeleição preferiu falar do Auxílio-Brasil, do preço da gasolina e de seu apoio ao defensor da mineração Zequinha Marinho; público esperado de 100 mil pessoas não passou de 25 mil (Foto: Oswaldo Forte/Foto Arena /Estadão Conteúdo).

O comitê da campanha de Jair Bolsonaro (PL) esperava reunir 100 mil pessoas em sua passagem pela capital paraense, mas de acordo com a própria equipe o público presente não passou de 25 mil. Em uma plenária nesta quinta-feira (22) em Belém, o presidenciável que ocupa o segundo lugar nas pesquisas discursou por apenas 10 minutos, bem menos do que gostariam aqueles que aguardaram por horas por sua passagem pela região antes de 2 de outubro. O ex-capitão do Exército não citou a palavra “Amazônia” uma única vez; tampouco atendeu aos jornalistas. Preferiu seguir para agenda de campanha em Manaus (AM), marcada para esta quinta-feira também.


A passagem-relâmpago do presidenciável por Belém, na manhã de quinta-feira, ocorreu em uma das avenidas mais icônicas da cidade pelo seu alto valor imobiliário, a Avenida Visconde de Souza Franco. A Doca, como é mais conhecida, protagonizou o encontro do presidenciável com um público majoritariamente decorado com verde e amarelo, em roupas, bandeiras e adereços. Bolsonaro disse ter orgulho de viajar pelo Brasil e testemunhar um País pintado com essas cores. Foi seu primeiro compromisso de campanha após o retorno de sua viagem ao exterior.


“Mesmo com dois anos de pandemia, o Brasil foi exemplo para o mundo na sua economia. Eu não fechei uma só casa de comércio no Brasil. Eu sempre disse, devemos cuidar das pessoas e também evitar que o desemprego se alastre em nosso País”, afirmou, acrescentando que espera que o apoio de eleitores do Pará se dê em dobro. Em 2018, ele foi derrotado no Estado pelo então candidato do PT, Fernando Haddad.


A preocupação em convencer o público sobre a saúde econômica da nação fez Bolsonaro mirar em um de seus calos mais recentes, o preço dos combustíveis. “A gasolina está abaixo de 5 reais no Brasil, trabalho nosso junto ao Congresso Nacional”, afirmou.

Acrescentou que “vamos enfrentar o terceiro mês com inflação negativa. Somos admirados no mundo todo, somos uma grande potência”. Em discurso na ONU, na terça-feira (20), o presidente adotou a mesma estratégia: em vez de falar como estadista, optou por elencar o que seriam conquistas de seu governo, incluindo o preço da gasolina e a deflação, ignorando os líderes mundiais.

“Deus te abençoe”


O candidato Jair Bolsonaro participa com Zequinha Marinho na motociata na cidade de Bélem, nesta quinta feira, 22 (Foto: Marx Vasconcelos/FuturaPress/Estadão Conteúdo)

O discurso de Bolsonaro foi interrompido algumas vezes por um coro gritando “mito, mito”. Frenética entre os eleitores, Rosângela Dias, de 50 anos, lamentou que apenas conseguiu tocar nas mãos do presidente, mas não deu para fotografar. A belenense votou em Bolsonaro em 2018 e votará novamente, “porque ele é uma pessoa que veio pra salvar o nosso País da corrupção, dos bandidos, da máfia do PT”. Ela disse acreditar que a vida dela só não melhorou mais “por causa dessa pandemia”.


“Ele enfrentou uma organização que é tudo contra ele, não pode fazer o trabalho dele direito, porque é impedido pelos corruptos”, disse Rosângela, que afirmou ter sido infetacada pela Covid-19 três vezes. “Tomei o remédio que Bolsonaro mandou e graças a Deus estou aqui viva. Não tomei vacina.”


Para a plateia dócil, o presidente procurou se opor diretamente contra o candidato do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em duas frentes. “Hoje nós temos o Auxílio Brasil, que equivale a três vezes o valor do Bolsa Família. Isso só é possível porque é um governo que não rouba, que não tem corrupção”, afirmou. A outra foi apelar para a retórica religiosa. “O que mais ouço de vocês são três frases: não desista; Deus te abençoe; estamos orando por você”, resumiu, tendo dito, posteriormente, que “o Estado pode ser laico, mas o presidente é cristão”.


O presidente revelou que um dos objetivos de sua agenda no Pará foi apoiar seus aliados. “Estou por aqui para colaborar com a eleição de um candidato ao Senado e de um ao governo. Nosso Mário Couto é a pessoa certa para ocupar essa vaga no Senado Federal. E o [Zequinha] Marinho é a pessoa para libertar o Pará da demagogia e do descaso. O Marinho é o governador que o Estado merece”.


Zequinha Marinho andou na garupa do presidente, ambos sem capacete, na motociata que partiu do Aeroporto Internacional de Belém em direção à Doca. Atual senador e membro da bancada evangélica, Zequinha Marinho iniciou a carreira política na década de 1990, tendo se filiado a partidos como PDT, PTB, PSC e PMDB, com cargos tanto no Parlamento estadual quanto federal. Foi vice-governador do tucano Simão Jatene, em 2014, e defende garimpos em terras indígenas.


Mário Couto também iniciou a carreira política na década de 1990, sentou na cadeira de vários partidos, como PDS, PMDB e PSDB, e assumiu cargos nos parlamentos estadual e federal. Em 2012, foi denunciado pelo Ministério Público do Estado do Pará por supostos desvios de recursos da folha de pagamento da Assembleia Legislativa do Pará, no período em que presidiu a Casa. Negou as acusações.


Foi o primeiro palanque presidencial no Pará em que o governador e candidato à reeleição Helder Barbalho (MDB) não subiu – o filho do senador Jader Barbalho acompanhou, diretamente, as agendas de Lula (PT) e Simone Tebet (MDB), sendo representado por seu irmão e presidente do partido no estado, Jader Filho, na agenda de campanha de Ciro Gomes (PDT). Bolsonaro ignorou que, em 2018, seu partido, o PSL, integrou a coligação de Helder Barbalho, compondo pastas em seu governo, até o derradeiro entrevero, evidenciado sobretudo pelo deputado federal Delegado Eder Mauro (PL-PA), autointitulado líder da bancada da bala na região Norte e o mais antiambiental parlamentar do estado.

Pautas morais


Em Belém, Bolsonaro posa ao lado do candidato a governador Zequinha Marinho e outros apoiadores (Foto: Reprodução/Rec Filmes)

Em uma comparação sem citar nomes de oponentes, Bolsonaro se apoiou nas pautas morais, pregando defender “a vida desde a sua concepção, dizemos ‘não’ ao aborto; nós dizemos ‘não’ à ideologia de gênero; nós dizemos ‘não’ à legalização das drogas”. Até emendar com mais precisão: “Lula continuará no lixo da história. Esse cara nunca mais vai roubar o povo brasileiro. Ser honesto é virtude, é obrigação de qualquer cidadão”.


O presidenciável resumiu seu propósito em uma possível nova gestão: “Continuaremos fazendo o nosso trabalho, reconhecido dentro e fora do Brasil. Nós somos um país fantástico e este estado é um dos estados mais ricos do Brasil”, deixando uma fresta de crítica ao ex-aliado, “mas, infelizmente, muito mal administrado. Tenho certeza que, com Marinho e com o Couto, nós botaremos o Pará no lugar que ele merece”.


A despedida foi expressa com um pedido e uma espécie de profecia. “A vocês, eu só tenho a agradecer o apoio que tive em 2018 e ter certeza que o apoio será dobrado por ocasião das eleições de 2 de outubro. E, o que é melhor, nós vamos ganhar no primeiro turno”, repetindo o que falou para brasileiros na sua passagem por Londres, onde acompanhou o enterro da Rainha Elizabeth II e fez campanha política – sendo duramente criticado pela imprensa britânica.


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