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Democracia em Vertigem


Do Brasil de Fato - Democracia em Vertigem, o documentário de Petra Costa lançado em 19 de junho em todo o mundo, é apresentado como o retrato de um dos períodos mais dramáticos da história do Brasil. Estamos diante de um precipício político e o documentário, em tom pessoal, contextualiza o caminho que nos trouxe até aqui. Petra conta o trecho da história brasileira que começa na redemocratização e vai até depois do falso processo de impeachment que retirou a presidente Dilma Rousseff do poder. Seu foco, nesse recorte, é a evolução da democracia brasileira, e o tom que ela utiliza confere ao seu relato concretude e identificação. A diretora não só demarca, como fazia Eduardo Coutinho, o lugar do entrevistador e contador da história. Ela é personagem e faz questão de mostrar de onde fala. Os depoimentos colhidos por Petra vão do de sua mãe, referência fundamental, ao de Dilma, depois da presidência, e Bolsonaro, antes da presidência. As duas horas de projeção são o resultado de um trabalho de edição potente, que resumem trinta anos da nossa vida política. Mas funcionam muito bem como linha do tempo para uma plateia estrangeira: na sessão em que eu estava, com a produtora inglesa Joanna Natasegara, espectadores perguntaram como pôde a mídia europeia não cobrir aqueles eventos, que abalaram nossa democracia. Joanna citou o livro Como as Democracias Morrem, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt. Talvez, as respostas sobre a sustentação da nossa estejam nos depoimentos do povo, esse que deveria ser o senhor do poder, no próprio filme. Há, também, no retrato da divisão que existe dentro da família de Petra, um símbolo da atual rachadura na sociedade brasileira. Por fim: o que se critica neste documentário, o tom particular, é a sua fortaleza. Ver e ouvir essa história contada por uma mulher também é uma afronta, na nossa frágil democracia.

*Tatiana Lima é jornalista e cinéfila

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