Alguns toques na tela de um smartphone ou tablet, e em segundos o agricultor obtém um balanço nutricional de sua plantação de soja, com as quantidades de nutrientes e corretivos de que a lavoura necessita. É o que oferece o aplicativo Nutri Meio-Norte, módulo soja, o primeiro do gênero desenvolvido pela Embrapa, que será apresentado nesta quarta-feira, 23 de maio, na feira agropecuária AgroBalsas, no município de Balsas, no sul do Maranhão. A tecnologia traz rapidez, economia e precisão na gestão de uma lavoura de soja, já que a cultura necessita de muitos insumos cotados em dólar.
Desenvolvido no ano passado pelo então estagiário de tecnologia da informação Filipe
Ribeiro Chaves, da Associação de Ensino Superior do Piauí (Aespi-FAPI), da equipe vencedora da maratona Hackathon Acadêmico Embrapa 2017, no Piauí, o aplicativo foi construído para ser uma plataforma digital ampla. Nesse primeiro módulo, o Nutri Meio-Norte permite, a partir da análise foliar, conhecer a fertilização adequada para o cultivo da soja, mostrando os dados nutricionais das plantas, como os nutrientes em excesso e outros com deficiência, gerando o desequilíbrio nutricional.
A dinâmica do aplicativo
É simples operar a tecnologia. Primeiramente, o produtor terá de realizar a análise foliar da lavoura, feita por um laboratório especializado. Após abrir o aplicativo, o agricultor deverá inserir na página “análise foliar” dados obtidos na análise laboratorial das amostras de sua lavoura, como as quantidades dos macro e micronutrientes encontrados. Depois, ele deve escolher o método de análise (DRIS ou CND, veja quadro abaixo) e clicar no botão “enviar”. Em seguida, aparecerão os índices nutricionais em formato de gráficos de barra e radar. Ele deve clicar, então, em “gerar relatório” para abrir um formulário a ser preenchido sobre dados da propriedade, em talhão ou lavoura, como área plantada, data da coleta da folha diagnóstica e algum manejo realizado na área. Finalmente, ao clicar em “baixar”, os resultados gerados são armazenados no dispositivo em forma de relatório que poderá ser compartilhado por e-mail ou programas de mensagens, como o WhatsApp.
Examinando as folhas
A análise de tecido vegetal, também conhecida como análise foliar, tem como princípio básico de amostragem a seleção de partes da planta, como as folhas. No estudo dessa parte da planta, a folha diagnóstica (usada para análise dos nutrientes) é a que melhor representa o estado nutricional da lavoura. Após a coleta de amostras em lavouras de soja e análise de macro (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre) e micronutrientes (boro, cobre, ferro, manganês e zinco), os resultados são usados para fazer o balanço de nutrientes, obtido pelos métodos Diagnose da Composição Nutricional (CND) e Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação (DRIS), que comparam os teores encontrados com um banco de dados de alta produtividade.
A ferramenta, disponível gratuitamente na internet para sistema Android (Play Store) e em breve para iOS (App Store), é indicada para o Maranhão e o Piauí, por analisar apenas amostras de folhas coletadas nesses dois estados. O uso do aplicativo poderá ser ampliado para Bahia e Tocantins, alcançando assim toda a área de produção de grãos da região Matopiba, quando o banco de dados receber informações desses estados.
“Com o resultado, o produtor pode adequar a adubação e ter eficiência no uso de nutrientes”, garante o pesquisador Henrique Antunes, que gerencia a plataforma e é, com o professor Danilo Eduardo Rozane, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), responsável pelas informações técnicas. Segundo ele, a ferramenta traz mais segurança ao produtor na aquisição e uso de fertilizantes e corretivos, ao recomendar a adequada nutrição das plantas.
A avaliação final do balanço nutricional da planta, por meio da ferramenta, sempre dependerá de uma análise de tecido vegetal feita em laboratório especializado. “É uma inovação tecnológica de fácil acesso ao banco de dados criado pela Embrapa Meio-Norte (PI), que gerou os sistemas Integrado de Recomendação e Dianóstico (DRIS) e o Diagnose da Composição Nutricional (CND)”, destaca Antunes.
A ideia de construção dessa plataforma, segundo o pesquisador, surgiu da necessidade de se ter um banco de dados regional, já que as cultivares plantadas no Nordeste são diferentes das semeadas no centro-sul, por exemplo. “As condições de clima e solo também são diferentes das encontradas nos demais estados da região do Matopiba. O manejo das lavouras foi outro ponto determinante para a necessidade de criação dessa ferramenta”, conta o cientista.
Feijão-caupi é o próximo
O próximo módulo a ser lançado é o de feijão-caupi, e também apresentará o balanço nutricional da planta. Os pesquisadores Francisco Brito e Henrique Antunes já estão trabalhando o banco de dados para iniciarem os testes com a ferramenta.
Economia e segurança no cultivo
Os primeiros testes com o Nutri Meio-Norte foram positivos e animaram grandes produtores. A observação do gaúcho Fernando Devicari, gerente da Fazenda Barbosa (com 680 hectares), grande produtora de soja no município de Brejo, no leste do Maranhão, é o retrato do otimismo: “Os resultados obtidos com o aplicativo mostram com melhor exatidão, comparando com os do DRIS, o estado nutricional da planta. Com esse diagnóstico mais apurado, esperamos conseguir resultados de produtividade cada vez melhores, visto que o programa foi desenvolvido especificamente para nossa região”, relata.
Do município de Uruçuí, a 453 quilômetros ao sudoeste de Teresina, onde o cultivo de soja é o carro-chefe da produção agrícola, vem mais expectativa de ganho com o Nutri Meio-Norte. O produtor Altair Domingos Fianco, que deixou a cidade de Pato Branco, no Paraná, há 22 anos, aposta alto no aplicativo: “Essa plataforma possibilita ao agricultor conhecer seu solo exatamente como ele se encontra, proporcionando a aplicação de fertilizantes de uma maneira equilibrada, com economia e segurança”.
Dono de 7.232 hectares na fazenda Condomínio União 2000, Fianco, que já foi presidente da Associação dos Produtores de Soja do estado (Aprosoja-Piauí), entidade que reúne 245 membros, acredita no aplicativo como ferramenta de gerenciamento: “Ele facilita na tomada de decisões. Com a tecnologia, podemos comprar os insumos certos, na quantidade correta, exatamente do que a planta precisa”.
Salto nas exportações
A produção de soja no Brasil continua em alta. Segundo o Levantamento Sistemático de Produção Agrícola do (IBGE), foram produzidas 117,8 milhões de toneladas em 2018. A área colhida foi de 34,8 milhões de hectares. O estado do Mato Grosso (31,6 milhões de toneladas) permaneceu como o maior produtor, seguido pelo Paraná (19,2 milhões de toneladas) e Rio Grande do Sul (17,5 milhões de toneladas).
No Nordeste, a Bahia é destaque. No ano passado, os baianos alcançaram uma safra de 6,2 milhões de toneladas da leguminosa. Maranhão (2,7 milhões de toneladas) e Piauí (2,4 milhões de toneladas), respectivamente, tiveram também produções expressivas em 2018. Em 2017, a soja produzida no País chegou a 114,5 milhões de toneladas, em uma área colhida de 33,9 milhões de hectares.
O Brasil é o segundo maior produtor de soja do planeta, atrás apenas dos Estados Unidos. O País deu também um salto nas exportações da leguminosa no ano passado. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia, foram exportadas 83,8 milhões de toneladas. Esses números são superiores em 23,1% na comparação com 2017.
A China permanece como o país que mais comprou a soja brasileira. A receita do complexo soja (grãos, farelo e óleo) com as exportações alcançaram US$ 40,963 bilhões em 2018. O volume de recursos foi de 29,6% acima do total comercializado ao exterior em 2017, que foi de US$ 31,603 bilhões.
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Fonte: Embrapa