Do Brasil de Fato - Acaba o filme e antes mesmo de as luzes se acenderem, a plateia se arrebenta em palmas. Alguém comenta alto: “aquela é a irmã do Henfil”, apontando para uma senhora emocionada e feliz. Na saída, muitos ficam por ali, perto do cinema, como a lembrar ou imaginar histórias que poderiam ter vivido com o artista-jornalista Henrique de Souza Filho, o Henfil.
Foi o mineiro de Ribeirão das Neves, nascido em 1944, que criou personagens tão queridos e eternos que voltaram com tudo para as ruas nos atos que fizeram parte da agenda brasileira desde 2015. Quem não viu por aí aquela passarinha simpática que parece um ponto de exclamação dizendo que via a esperança? A Graúna, os fradinhos, o paranoico Ubaldo, Zeferino e até o caboclo Mamadô bem que poderiam ter sido desenhados nesses intensos anos de 2010.
Angela Zoé também foi produtora de “Betinho, a esperança equilibrista”
Mas a produção de Henfil se deu no período de resistência à ditadura militar (1964-1985). A participação do cartunista, cineasta, escritor, jornalista e até ator no movimento das Diretas Já, inclusive, não foi apenas – como se isso fosse “apenas” – seus numerosos e simbólicos desenhos, mas até na palavra de ordem, que teria sido criada por ele.
Essa e outras histórias são contadas no documentário “Henfil”, de Angela Zoé. A diretora também foi produtora de “Betinho, a esperança equilibrista”, sobre o irmão de sangue de Henfil, que, assim como ele, foi contaminado pelo vírus HIV em uma transfusão de sangue em decorrência da hemofilia. Por isso, a data da pré-estreia – 1 de dezembro – o dia mundial de combate à Aids. O documentário entra a partir de quinta (6) em cartaz em todo o país.
Henfil passou por importantes jornais, como “O Pasquim”; escreveu “Diário de um cucaracha”, sobre sua experiência nos Estados Unidos, e “Henfil na China”, com relatos da viagem ao país comunista; dirigiu e atuou no filme “Tanga – deu no New York Times” e participou de um quadro de TV, o “TV Homem”, dentro da “TV Mulher”. As cartas que enviava a sua mãe – dona Maria – foram compartilhadas com os leitores da Revista IstoÉ, onde foram publicadas de 1977 a 1984, e depois reunidas em livro.
Henfil se engajou profundamente na luta contra a ditadura, mas seu horizonte não se limitava a criticar – feroz e sutilmente – os fardados de então. Sua luta era mais ampla, como ele mesmo diz: “O humor que vale para mim é aquele que dá um soco no fígado de quem oprime". Falecido em janeiro de 1988, sua obra segue atual e pode nos inspirar para novas resistências.