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Círio de Nazaré: Origens, trajetória, curiosidades e polêmicas do 'Natal' do povo católico p


A devoção a Nossa Senhora de Nazaré remonta ao início da colonização portuguesa. O termo Círio vem da palavra latina "cereus", que significa vela ou tocha grande. Por ser a principal oferta dos fiéis nas procissões em Portugal, com o tempo, o termo passou a ser sinônimo da procissão de Nazaré aqui em Belém e de muitas outras pelas cidades do interior do Pará.

Nossa Senhora de Nazaré é um dos títulos dados a Maria, Mãe de Jesus. A devoção teve início com uma famosa aparição e milagre ocorridos em Portugal e espalhou-se pelas colônias portuguesas.

No Brasil, a devoção a Nossa Senhora de Nazaré tem grande expressão. O culto à Virgem de Nazaré no Pará começou no século XVII no município de Vigia, nordeste paraense, e foi trazido por marinheiros dos Açoures (ilhas do Atlântico próximas de Portugal).

Com o crescimento da devoção, o primeiro bispo do Pará, Dom Frei Bartolomeu do Pilar, foi até Vigia conhecer o culto trazido de Portugal. Por lá, Nossa Senhora de Nazaré já era bem conhecida. Nessa época, o culto à santa em Belém também teve seu início.

Na capital paraense, a devoção começou por volta do século XVIII, quando o caboclo Plácido José de Souza encontrou, em 1.700, a imagem original de Nazaré. A estória é conhecida por todos os paraenses. Plácido encontrou a pequena imagem de Nossa Senhora às margens do Igarapé Murutucu, que corria onde é a atual travessa 14 de Março, por trás da Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré.

De acordo com a relatos, Plácido levou a imagem para casa, mas não a encontrou no dia seguinte. A santa foi encontrada no Igarapé onde havia sido achada originalmente. Plácido tentou levar a imagem outras vezes, mas ela sempre desaparecia e retornava ao igarapé. A imagem chegou a ser levada para a Capela do Palácio do Governo da Província, onde ficou guardada por escolta - mesmo assim, de manhã já não estava novamente lá.

Já em 1773, o frei Dom João Evangelista colocou a cidade de Belém sob a proteção de Nossa Senhora de Nazaré, pois a devoção já estava consolidada no Pará. Já Dom Frei Bartolomeu do Pilar, conhecendo a história de Plácido e entendendo que era o desejo da Virgem permanecer no Igarapé, ordenou a construção da pequena ermida no local em 1724, para abrigar a santa e aumentar ainda mais o número de fiéis.

Mas o responsável mesmo por 'importar' de Portugal, em 1790, os elementos que conhecemos até hoje no Círio de Nazaré foi o governador do Pará Dom Francisco de Sousa Coutinho. Ele – que era um navegador e conhecia os círios Portugueses - percebeu que a devoção a Nossa Senhora só crescia em Belém e resolveu introduzir os elementos por aqui.

A devoção à Nossa Senhora é um culto marítimo português. A definição da palavra círio é vela e é de origem grega. Então, nada mais é do que as procissões que os portugueses já faziam nos séculos 15 e 16 para pedir proteção aos navegadores. Relatos de historiadores dão conta de que até Vasco da Gama pedia bençãos a Nossa Senhora de Nazaré quando viajava.

O PRIMEIRO CÍRIO - Em 8 de setembro de 1793, data em que eram realizadas as festividades de Nazaré em Portugal, foi realizado o primeiro Círio de Nazaré pelas ruas de Belém. A primeira procissão saiu da Capela do Palácio do Governo em direção a ermida, onde hoje fica a Basílica Santuário.

Dom Francisco trouxe a feira e o arraial que já aconteciam em Portugal para Belém, isso foi o começo do arraial de Nazaré. A imagem original de Nossa Senhora de Nazaré foi conduzida em uma berlinda construída por fieis paraenses. Ela foi colocada sob um carro que conduzia bois e foi puxada pelas ruas da cidade.

À época, Belém não possuía urbanização e em alguns trechos da passagem da santa o carro ficava atolado por causa da lama e dos buracos. Os romeiros, então, tiveram uma ideia: amarraram uma corda e começaram a puxa o carro. Foi daí que surgiu a corda atrelada à berlinda, um dos grandes símbolos do círio.

PRIMEIRAS PROCISSÕES - O primeiro Círio foi realizado na tarde do dia 8 de setembro de 1793, saindo do palácio do governo. Este roteiro se manteve até 1881. O segundo domingo de outubro só foi definido como o dia de realização da procissão do Círio em 1901.

Em 1854 o Círio passou a ser realizado de manhã, para evitar as chuvas que são mais comuns no período da tarde. A partir de 1882, o bispo Dom Macedo Costa, de comum acordo com o Presidente da Província, Dr. Justino Ferreira Carneiro, resolveu que o ponto de partida seria a Catedral de Belém, como acontece até hoje.

A imagem que participa das procissões é uma réplica, já que a santa encontrada por plácido tem mais de 300 anos. Apenas no Círio 200, em 1992, a Imagem que saiu na procissão foi a Imagem Original.

POLÊMICAS - Na história do Círio, a devoção nazarena, bem como o catolicismo, sofreram resistências até mesmo por parte da igreja católica. Uma delas foi chamada de 'Questão Nazarena'. A polêmica começou quando o Bispo Dom Macedo Costa tentou fazer do Círio uma procissão ao estilo romano, em 1880, e tentou afastar do corpo da procissão os religiosos. A reação veio na forma da realização dos chamados 'Círios Civis', quando a romaria não contou mais com a presença dos sacerdotes da época e os romeiros tomaram a frente da procissão.

Entre os anos de 1926 e 1931, o Círio passou por outro momento conturbado. O então bispo do

Pará Dom Irineu Joffily mandou retirar da procissão a corda que conduzia a berlinda e instituiu cânticos à maneira do catolicismo romano. A opinião pública fez uma força tão grande contra essas ações que foi preciso a intervenção de Magalhães Barata para resolver a questão. O Interventor do Estado forçou Dom Irineu a aceitar a forma tradicional do Círio e o problema foi resolvido.

Polêmicas à parte, o Círio de Nazaré atravessou os séculos e representa um dos grandes símbolos religiosos, uma manifestação do catolicismo popular, a exemplo de Portugal, com elementos como o arraial, os fogos, as bebidas. É um evento cultural que reúne não só católicos e incorpora todos à festa.

MILAGRES E PROMESSAS - Diversos milagres são atribuídos pelos cristãos à Nossa Senhora de Nazaré. Um dos mais conhecidos teria sido a graça alcançada pelo fidalgo português Dom Fuas Roupinho, cujo cavalo galopava em uma mata perto de um abismo. Ao perceber que iria cair para a morte, o fidalgo pediu a proteção de Nossa Senhora e o cavalo conseguiu parar.

Outro milagre teria acontecido no ano de 1846, com os passageiros do brigue português São João Batista, que deixou Belém rumo a Lisboa no dia 11 de julho. O brigue naufragou durante a viagem e os passageiros foram salvos por um bote que os trouxe de volta à Belém. O brigue havia, anos antes, transportado a Imagem de Nossa Senhora de Nazaré a Lisboa, para ser restaurada. O bote que salvou os náufragos também era o mesmo que tinha levado a Imagem até o brigue ancorado ao largo da cidade.

Fonte: Alepa - por Dina Santos

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