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Curso na floresta exercita criatividade de alunos no fazer e divulgar pesquisas sobre insetos


Sem auxílio tecnológico e ‘forçado’ a trabalhar na Reserva Ducke com um assunto diferente de sua experiência prévia, o estudante de Mestrado e Doutorado é levado a desenvolver um projeto de pesquisa que terá como desdobramento um artigo científico, voltado para a academia, e um texto de divulgação científica, com foco na população

Sair do ambiente de sala de aula para uma imersão de cinco dias em plena floresta, na Reserva Florestal Adolpho Ducke (Km 26 da AM-010), para despertar a curiosidade científica e a capacidade individual de fazer pesquisas. Esta é a proposta da disciplina prática Entomologia Geral do curso de mestrado e doutorado em Entomologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC).

A disciplina é ministrada desde 1988 com o objetivo de ensinar os diferentes métodos de coletas, identificar e conservar insetos. Este ano, 15 alunos dessa matéria foram ao campo desprovidos de tecnologias e equipamentos modernos (internet, celular, TV). Eles precisaram se valer de uma única “arma” - a criatividade.

Durante a disciplina, os alunos escolhem um projeto que queriam desenvolver, denominado “projeto de um dia”, no qual elaboram um artigo científico e um texto de divulgação científica, que possui uma linguagem mais simples e acessível à população.

A mestranda Ana Flavia, que veio de Imperatriz (Maranhão), conta sua experiência durante a aula prática. “Saímos da sala de aula e fomos para o campo aprender os métodos de coletas e conhecer os vários tipos de inseto. Foi bem intenso, mas muito gratificante. Foi ‘top’!”.

Para o professor da turma, o pesquisador José Albertino Rafael, a disciplina é levada para o campo para que seja, essencialmente, prática e fuja do dia a dia do laboratório. A parte prática aconteceu de 3 a 8 de maio, prosseguindo com a parte laboratorial até esta sexta-feira (19).

“No campo, incentivamos para que o aluno interaja com o ambiente, sentindo todas as possibilidades que existem para que ele desenvolva sua pesquisa e tenha uma percepção do que é fazer pesquisa”, diz o entomólogo ao acrescentar que uma das coisas que mais gosta da disciplina é incentivar o aluno a desenvolver o “Projeto de um dia”.

José Albertino explica que nesta atividade, cada aluno cria algo inédito para si, porque é forçado a trabalhar com um assunto diferente de sua experiência prévia. O aluno tem que utilizar de sua capacidade de observação pessoal, sem estar orientado ou dito por um pesquisador “faça isso, faça aquilo”.

“Os professores e monitores não podem dizer aos alunos o que fazer. É o aluno que tem que sair de lá orgulhoso, dizendo: eu fiz isso, eu criei e eu obtive os resultados”, destaca Albertino. “É uma prática simples, mas que mexe com a cabeça do aluno para sempre”, revela.

Para o pesquisador, isso demonstra para uns a capacidade de se inserir como um pesquisador, já para outros, mostra que não terão essa mesma capacidade, mas que poderão ser bons técnicos ou excelentes professores.

Segundo o pesquisador, ao longo do tempo o curso vem evoluindo, por conta de críticas e sugestões dos alunos. “Alguns falavam que o curso é muito puxado, então, aumentamos um dia. Se o curso ia até tarde da noite, agora não passa da meia-noite, em sala de aula; mas, na observação noturna, em campo, os alunos vão até as duas da manhã, observando e coletando a fauna”, conta.

Diferencial

A maioria dos participantes da disciplina Entomologia Geral é proveniente de Manaus e dos estados da região Norte. O pesquisador José Albertino vê isso como um ponto positivo. “Sou da época em que a maioria que entrava no curso de pós-graduação do Inpa era de alunos do sul e sudeste. E ao longo do tempo isso vem mudando, e é um reflexo da qualidade dos alunos que estão se formando em Manaus e outros estados do norte”, explica o pesquisador.

Para José Albertino, as turmas de pós-graduação do curso de Entomologia Geral saem com uma base muito boa na prática de reconhecimento dos diversos grupos de insetos, o que não é oferecida em outros cursos no Brasil ou no mundo. Segundo ele, aqui, no Inpa, se tem a possibilidade de se fazer o reconhecimento dos habitats e dos ambientes onde podem ser coletadas todas as ordens de insetos neotropicais.

“Por exemplo, uma ordem que se pensava que era extremamente rara, Zoraptera (parentes próximas dos cupins e das baratas), os alunos aqui do Inpa sabem onde coletar. Não é porque a espécie é rara, é porque não se tinha conhecimento de onde eles viviam”, destaca.

Premiação

A mestranda Alana Lopes, oriunda da universidade Federal do Amazonas (Ufam), foi a vencedora do prêmio “Colêmbolo de Ouro” (em referência a um grupo de insetos muito carismático) no "projeto de um dia". Ela trabalhou com o comportamento defensivo das formigas Camponotus, e intitulou seu texto de divulgação científica para a mídia “Alerta vermelho: ameaça à vista! Um exército de formigas como você nunca viu”.

O 2º lugar foi para a mestranda Larissa Queiroz com o artigo “A incrível teia Hulk da Amazônia”, que trata da resistência da teia de uma espécie de aranha, enquanto o 3º lugar ficou com o mestrando Matheus Mauri Frascareli Bento com o artigo “Tamanho não é documento para as formigas”.

Após aprenderem técnicas de Comunicação Científica, na disciplina anterior, os alunos põem em prática o conhecimento adquirido e transformam os resultados das atividades na Reserva Florestal Adolpho Ducke em produtos elaborados com uma linguagem simples e de fácil entendimento para todos.

“Para todo mundo, é um crescimento profissional muito grande. Mas o que me surpreendeu ao longo dessa semana foi o crescimento pessoal da equipe, no sentido de que todos se ajudaram”, destaca Alana Lopes. “Outra coisa importante foi a aprendizagem da observação e começar a partir do zero para tentar entender o processo de pesquisa”, complementa.

Fonte: Ascom Inpa - por Luciete Pedrosa – Fotos: Acervo pesquisador

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