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Frequência das enchentes do rio Amazonas aumentou cinco vezes em 100 anos


A pesquisa pode contribuir para previsões mais precisas de inundações na bacia Amazônica, a maior do mundo, com quase 20% da água doce. Foto: Reprodução da Internet

A frequência das enchentes do rio Amazonas aumentou em cinco vezes nos últimos cem anos. É o que revela um estudo publicado na revista Science Advances a partir da análise de registros diários dos níveis de água no Porto de Manaus. Os pesquisadores analisaram 113 anos de registros, que revelaram um aumento na frequência de cheias e secas severas nas últimas três décadas. O estudo demonstra que houve, na primeira parte do século 20, cheias severas com níveis de água que ultrapassaram 29 metros – valor de referência para acionar o estado de emergência na cidade de Manaus – a cada 20 anos, aproximadamente. Atualmente, cheias extremas ocorrem, em média, a cada quatro anos.

A pesquisa pode contribuir para previsões mais precisas de inundações na bacia Amazônica, a maior do mundo, com quase 20% da água doce. Para o pesquisador Jochen Schöngart, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a ciência deve fazer uso desse conhecimento para aperfeiçoar modelos de previsão de cheias na Amazônia Central e servir de subsídio para as políticas públicas.

“Isso permite preparar as populações em áreas urbanas e nas regiões rurais para enfrentar consequências de cheias severas, que sempre impactam a qualidade de vida dessas populações. As pessoas perdem moradia, sofrem várias doenças, serviços básicos como água potável ficam restritos, e a pecuária e agricultura são bastante reduzidas nas várzeas, resultando em enormes prejuízos econômicos e sociais para essa parte da sociedade”, ressalta Schöngart, que participa do Grupo de Pesquisa Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas do Inpa.

“Cheias extremas na bacia Amazônica têm ocorrido todos os anos, entre 2009 e 2015, com raras exceções”, acrescenta o pesquisador Jonathan Barichivich, da Universidade Austral do Chile.

Circulação de Walker

De acordo com o estudo, o aumento do número de enchentes está relacionado à intensificação da circulação de Walker, um sistema de circulação do ar movido pelo oceano originado pelas diferenças de temperatura e pressão atmosférica sobre os oceanos tropicais. Esse sistema influencia padrões climáticos e pluviométricos em toda a região dos trópicos e além.

De acordo com o pesquisador Manuel Gloor, da Escola de Geografia da Universidade de Leeds, na Inglaterra, esse aumento dramático nas enchentes é causado por mudanças nos oceanos vizinhos, particularmente os oceanos Pacífico e Atlântico e como eles interagem. Ainda segundo Gloor, devido ao forte aquecimento do Oceano Atlântico e ao resfriamento do Pacífico no mesmo período, observou-se mudanças na chamada circulação de Walker afetando a precipitação na Amazônia.

“O efeito é mais ou menos o oposto do que acontece durante o El Niño. Ao invés de causar seca, leva a uma maior convecção e precipitação intensa nas regiões central e norte da bacia Amazônica”, explica Manuel Gloor.

A pesquisa indica que essas enchentes continuam. Os dados de 2017, que não foram incluídos no estudo, indicam que o nível de água superou, novamente, os 29 metros. Como o Atlântico Tropical deve continuar aquecendo mais rápido que o Pacífico Tropical nas próximas décadas, cientistas esperam mais eventos com alto nível de água.

O estudo “Intensificação recente dos extremos de inundação da Amazônia impulsionada pela circulação reforçada de Walker” foi publicado nesta quarta-feira (19) na revista Science Advances.

Fonte: MCTIC

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