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Estudo revela a influência dos povos pré-colombianos na biodiversidade da Amazônia


Estudo inédito liderado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) revela que os povos pré-colombianos moldaram a flora amazônica, o que contradiz a hipótese de que a floresta teria sido intocada pelo homem.

Uma equipe de 152 cientistas, sendo 53 brasileiros, chegou à descoberta ao sobrepor dados de mais de mil inventários florestais, da Rede de Diversidade das Árvores da Amazônia (ATDN), com o mapa de 3 mil sítios arqueológicos espalhados por toda a região. As análises indicaram a relação entre a ocupação humana e a presença de plantas domesticadas na floresta. O resultado da pesquisa foi publicado nesta quinta-feira (2) na revista Science.

"Por muitos anos, os estudos ignoraram a influência dos povos pré-colombianos nas florestas atuais. Um quarto das espécies de árvores domesticadas por esses povos são amplamente distribuídas na região e dominam grandes extensões de florestas", explica a pesquisadora Carolina Levis, do Inpa e da Wageningen University and Research Center, da Holanda. "O que fizemos foi cruzar os dados botânicos de parcelas de inventários florestais com dados arqueológicos. Por alto, são pelo menos 80 anos de pesquisas com centenas de pessoas trabalhando para conseguir coletar essas informações. Foi a primeira vez na escala da Amazônia que juntamos esses dados", acrescenta.

Segundo ela, a pesquisa focou em 85 espécies de árvores que foram domesticadas pelos povos pré-colombianos, entre elas, cacau, castanha-do-Brasil, açaí, bacaba, patauá, mapati, seringueira e pupunha. Em toda a bacia amazônica, essas espécies eram cinco vezes mais comuns em inventários florestais do que as espécies não domesticadas. Além disso, eram encontradas em abundância e diversidade nas florestas próximas aos sítios arqueológicos.

A pesquisa aponta que o sudoeste da Amazônia, que abrange o estado de Rondônia, no Brasil, e a Bolívia, foi altamente transformado e habitado. E é onde há uma densa concentração de plantas domesticadas. "Já no Escudo das Guianas, não encontramos essa mesma relação dos sítios arqueológicos com as plantas", afirma Carolina Levis.

Para a pesquisadora Flavia Costa, coautora do artigo publicado na Science, o estudo comprova que a ocupação da Amazônia não era restrita às regiões próximas aos grandes rios. O interior da floresta, nos chamados interflúvios (entre rios), que eram considerados vazios demográficos, também era modificado pelas civilizações pré-colombianas. "A verdade é que o impacto da ocupação humana é muito mais espalhado do que se pensava."

Arqueologia da Amazônia

A equipe multidisciplinar de cientistas contou com a participação do pesquisador Eduardo Kazuo Tamanaha, que lidera o Laboratório de Arqueologia do Instituto Mamirauá. Segundo ele, os resultados do estudo ilustram a importância de correlação de dados científicos para o conhecimento da Amazônia. "Pensando a longo prazo, a grande contribuição do trabalho é estreitar os laços entre as duas áreas, botânica e arqueologia", avalia.

Para o coordenador da ATDN, Hans ter Steege, a descoberta promete esquentar o debate sobre o grau de influência da ocupação humana na biodiversidade atual da bacia amazônica. "E desafia a visão que muitos de nós, ecólogos, tínhamos e ainda temos dessa imensa floresta."

Fonte: Fonte: MCTIC

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