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Reverendo envolvido no escândalo da vacina tem trânsito entre bolsonaristas


Foto: REPRODUÇÃO

Integrantes da CPI da Covid já manifestaram o receio de que as investigações da comissão parlamentar de inquérito comecem a revelar, além de militares envolvidos em negócios suspeitos, também religiosos metidos em tramoias. O risco é real e atende, principalmente, por um nome: Amilton Gomes de Paula. Reverendo da igreja batista e ex-cabo do Exército, Amilton foi convocado para depor na CPI na próxima quarta-feira (14), após seu nome aparecer como um dos protagonistas da suspeitíssima negociação de 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca com o Ministério da Saúde.


Documentos mostram que as tratativas do governo Bolsonaro ocorreram sempre com a empresa americana Davati Medical Suplies e a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), que, apesar de ter esse nome, não é um órgão do governo, mas uma entidade privada criada por Amilton em 1999. Além disso, mensagens de celular trocadas pelo policial militar e representante de vendas da Davati, Luiz Paulo Dominguetti, apresentam o reverendo Ailton como alguém com acesso direto a Jair Bolsonaro.

Em 16 de março, uma pessoa chamada Renato escreveu a Dominguetti: “Ontem o Amilton falou com Bolsonaro, ele falou que vai comprar tudo”. Em outro áudio, revelado nesta quinta-feira (8) pelo G1, o CEO da Davati no Brasil, Cristiano Carvalho, diz a Dominguetti que o reverendo Amilton aproveitaria um encontro de religiosos com Bolsonaro para abordar a compra das vacinas. Um evento desse tipo de fato ocorreu em 15 de março, um dia antes da outra mensagem, indica o G1.


Trânsito entre bolsonaristas


Segundo apuração da Agência Pública, o reverendo Amilton Gomes tem bom trânsito no meio político bolsonarista. Nas redes sociais, já postou foto com Flávio Bolsonaro e, recentemente, participou da divulgação de um evento chamado Conferência Nacional de Liderazgo ao lado da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP). Além disso, o pastor ajudou a criar a Frente Parlamentar Mista Internacional Humanitária pela Paz Mundial (FremhPaz).


O reverendo parece aproveitar essa proximidade com políticos para ganhar acesso aos órgãos governamentais. Também de acordo com a Agência Pública, para entrar no Ministério da Saúde com a oferta das vacinas, Amilton contou com uma carta de recomendação do deputado federal Roberto de Lucena (Podemos-SP), autor de um projeto de lei que libera a compra de vacinas contra a Covid-19 pela iniciativa privada sem repasses de doses para o Sistema Único de Saúde (SUS).


“Eu apoio a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) na aquisição de vacinas para o governo brasileiro, a preço humanitário”, escreveu o deputado no documento, antes de parabenizar a entidade de Amilton “pelo excelente desempenho na interlocução entre laboratórios e governo”.


Lobby


“Interlocução” que se assemelha muito a lobby. Em entrevista ao jornal O Globo, quando procurou se eximir de responsabilidades no escândalo, o reverendo admitiu que a Senah é procurada por diversas organizações para intermediar contato com o governo por contar com apoio no Congresso. E abrir as portas do Ministério da Saúde para a Davati foi o que o religioso conseguiu.


Em 4 de março, ele agendou uma reunião com representantes da pasta, na qual compareceu com Dominguetti e o major da Força Aérea Brasileira (FAB) Hardaleson Araújo de Oliveira, seu antigo conhecido. Quatro dias depois, segundo a CNN Brasil, a Davati enviou ao ministério um e-mail nomeando a Senah como sua interlocutora na negociação.

No dia seguinte, 9 de março, o então diretor de imunização do Ministério da Saúde, Laurício Cruz, exonerado nesta quinta-feira e que já havia se reunido com Amilton e Dominguetti em fevereiro, deu aval para que o reverendo Amilton negociasse com a Davati a compra das vacinas, mesmo sabendo que nenhuma das empresas era representante oficial da Astrazeneca, descobriu o Jornal Nacional.


Está claro que o reverendo Amilton não fez tudo isso apenas por princípios humanitários. O JN também descobriu que, durante as negociações, um representante da Senah passou à Davati o nome de duas empresas nos Estados Unidos, sugerindo que o pagamento de qualquer comissão fosse feito por meio delas, caso o negócio com o governo fosse concretizado.


As empresas que receberiam a comissão da Senah seriam a DFRF Golden Angel e a DFRF American Golden Eagle, que ficam na Flórida e são geridas por Amilton. Na primeira, o reverendo consta como presidente, tendo abaixo dele Daniel Fernandes Rojo Filho, brasileiro que foi preso nos Estados Unidos em 2015 acusado de integrar um esquema de pirâmide financeira multimilionária.


Fonte: Agência PT

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