Do Brasil de Fato - O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou a maior injeção financeira da sua história: US$ 650 bilhões (cerca de R$3,5 trilhões) para aquecer a economia mundial pós-pandemia de coronavírus. O valor é 2,5 vezes superior ao liberado pós crise econômica de 2009 e deverá ser disponibilizado a partir de 23 de agosto.
Fazendo alusão às vacinas contra a covid-19, a diretora geral do FMI, Kristalina Georgieva afirmou que a medida será uma "dose no braço da economia mundial".
O montante também representa 65% da capacidade de empréstimo do FMI e será ofertado como Direito Especial de Giro (DEG), o que significa que os valores serão disponibilizados em cinco moedas -- dólar estadunidense, yuan chinês, yen japonês, euro e libra esterlina -- para aumentar as reservas internacionais dos 190 países membros, sem cobranças de juros.
Para o economista e ex-diretor do FMI, Paulo Nogueira Batista Júnior a decisão é positiva se realizada nos termos propostos, pois não implica um endividamento dos Estados e "ajuda os países a realizarem seus pagamentos".
A diretora geral do organismo, Kristalina Georgieva apelou às maiores potências que disponibilizem suas cotas para a liberação de crédito aos países pobres, através das linhas especiais com juro zero.
Desigualdade na distribuição de ajuda
Segundo o organismo financeiro, os países mais vulneráveis seriam prioridade. No entanto, cerca de US$ 275 bilhões (cerca de R$ 1,4 trilhão) serão designados a países emergentes e o restante ficará para as 20 maiores potências econômicas mundiais, já que a divisão do capital segue a proporção do tamanho do aporte de cada um dos 190 membros do FMI.
Os Estados Unidos concentram 16,5% dos repasses financeiros ao organismo, seguido do Japão com 6,2%, e Alemanha com 5,3%. O Brasil teria uma cota de 2,2%.
O presidente sul-africano Cyril Ramaphosa defendeu que pelo menos 25% do valor total deveria ser destinado a países africanos, quase cinco vezes mais do que os US$ 33 bilhões (cerca de R$ 172 bilhões) anunciados para todo o continente. A perspectiva de aumento econômico para o conjunto dos países africanos é de 2,4% em 2021.
Nogueira Júnior diz que é improvável que o FMI mude a lógica de direcionamento dos saques para o momento de crise atual. Assim como para a aprovação do DEG, qualquer alteração do regulamento interno do organismo necessita do aval da maioria absoluta. "O conselho diretivo do Fundo é desenhado para que esse tipo de medida, para ser aprovada, requeira mais de 85% de votos, uma ampla maioria. Dessa forma, os Estados Unidos têm peso de veto, assim como os europeus e os BRICS, quando atuam em bloco", destaca.
A profundidade da crise
De acordo com o Banco Mundial, a economia global retraiu 5,2% no último ano devido à emergência sanitária do novo coronavírus - a maior recessão desde a 2ª Guerra Mundial. Para a América Latina e Caribe, a situação foi ainda mais crítica, com uma redução de 7% das economias.
De todos os membros do FMI, apenas a China registrou crescimento de 2,3% do seu PIB em 2020 e previsão de aumentar para 8,1% até o final de 2021. Por isso, os chineses estariam foram do repasse financeiro proposto.
Para as economias consideradas emergentes, como o Brasil, o crescimento será o mais lento dos últimos 20 anos, com uma média de 4,4% no período 2001-2021. O PIB per capita nesses países, no entanto, continuará inferior ao que possuíam antes da pandemia.
O plano de recuperação já havia sido proposto em 2020, mas foi vetado pela administração Trump. Agora, com Joe Biden na Casa Branca, os fundos serão liberados.
"Os americanos sempre são contrários ao DEG porque pode gerar competitividade com o dólar. Então resistiram em 2009 e agora também demoraram. Eles só concordam quando há uma crise internacional muito grave", analisa o ex-diretor executivo do FMI.
O dólar vive a maior crise da sua história, com uma queda de 12% no seu valor nos últimos dez meses. Alguns especialistas defendem que poderia ser uma inflação transitória, já que para aumentar a liquidez em 2020 foram emitidos 22% das cédulas existentes da moeda estadunidense.
Embora haja expectativa de recuperação econômica mundial, a desigualdade permanece. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), 120 milhões de pessoas vivem em situação de pobreza extrema. Por outro lado, os maiores multimilionários tiveram recorde de lucros em 2020, um total de US$ 1,5 trilhões - equivalente aos ganhos de 680 milhões de pessoas em situação de pobreza em todo o globo.
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