Até 2024 a robótica fará incursões nos setores químico e farmacêutico e de alimentos e bebidas, superando a indústria de plásticos e borracha
Por Rafael Rubim de Castro Souza e Renan Rubin de Castro Souza - Na 22ª Carta de Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), publicamos nota técnica tratando do cenário e perspectivas da indústria da robótica. O acesso à íntegra da nota pode se dar em https://www.uscs.edu.br/noticias/cartasconjuscs.
De acordo com a Interact Analysis, os tipos de indústria e aplicações industriais que adotam robôs colaborativos (cobots) têm sido igualmente diversos. Avalia-se que isto evoluirá de forma parecida aos robôs convencionais, sendo a eletrônica e a automotiva sua maior base instalada. As aplicações de montagem, manuseio e pick&place são consideradas as mais prováveis aplicações para o uso de cobots, sendo responsável por 75% de toda a receita de robôs dos próximos dois anos. Embora existam robôs colaborativos com cargas úteis acima de 12 kg, avalia-se que o ponto ideal para a maioria das aplicações esteja acerca de 5 kg, devido ao grande número de processos que envolvem produtos abaixo de 1 kg.
Ainda de acordo com a Interact Analysis, os diversos fabricantes de robôs colaborativos estão preocupados em desenvolver tecnologias cada vez mais adequadas, com a finalidade de aumentar o potencial de crescimento do mercado dos cobots. Em 2019, os setores eletrônico e automotivo continuavam sendo as duas maiores indústrias finais. Somadas, elas representam a metade da participação do mercado. Mas as barreiras nesses dois setores são relativamente altas e é difícil para novos entrantes se consolidarem. Entretanto, os cenários de serviços podem ser considerados como um mercado potencialmente lucrativo para novas instalações. Em armazenamento e logística, saúde, varejo inteligente e outras indústrias emergentes, as características seguras e flexíveis dos robôs colaborativos são muito atraentes.
Em análise da Interact Analysis em uma perspectiva regional, mais da metade dos cobots foi enviada para a Ásia em 2019. China, Alemanha, América do Norte e América do Sul deverão ser os maiores mercados para remessas de robôs colaborativos nos próximos anos, com receitas crescendo a uma taxa CAGR (Compound Annual Growth Rate) de mais de 10% em cada uma dessas regiões. Entretanto, os motivos pelos quais os cobots são interessantes variam de região para região. Os usuários finais na China, Ásia Pacífico e Europa Oriental são atraídos por seus custos iniciais relativamente baixos, facilidade de instalação e facilidade de uso. Pequenas e médias empresas usam robôs colaborativos para aumentar a eficiência da automação, principalmente em indústrias de mão de obra intensiva, como a eletrônica.
Na Europa e na América do Norte, os recursos de segurança dos robôs colaborativos receberam bastante atenção e são um foco para o desenvolvimento de produtos. Em 2019, os três maiores usuários finais da América do Norte foram automotivos, eletrônico e a indústria de plástico e borracha. Até 2024, embora a indústria automotiva continue a liderar o campo e represente mais de 25% das receitas, os cobots farão grandes incursões nos setores químico e farmacêutico e de alimentos e bebidas, superando as vendas de robôs colaborativos para a indústria de plásticos e borracha, e quase superando as vendas para a indústria eletrônica.
O uso não industrial também é uma tendência e ganha força nos Estados Unidos. No Japão e na Coreia do Sul, devido ao envelhecimento da população e à escassez de mão de obra, a capacidade dos cobots de trabalhar ao lado de seres humanos representa um ponto de venda único. Em relação ao caso brasileiro, pode-se dizer que esta indústria ainda engatinha.
Densidade de robôs
Segundo estudo da IFR (International Federation of Robotics), em 2019, a densidade mundial de robôs na indústria de manufatura foi de 113 para cada 10 mil empregados da indústria.
Os países com melhores resultados de densidade, segundo este relatório são: Singapura (918 robôs instalados por 10 mil trabalhadores), Coreia (855), Japão (364), Alemanha (346) e Suécia (277). No Brasil, figuramos com a média de apenas 12 a 13 robôs para cada 10 mil trabalhadores.
Os EUA são o maior usuário de robôs industriais, atingindo um estoque operacional em torno de 293.200 unidades. O México figura em segundo lugar, com 40.300 unidades, seguido pelo Canadá, com cerca de 28.600 robôs.
As novas instalações de unidades de robôs nos EUA caíram 17% em 2019 se comparado a 2018, ano recorde. A grande maioria das unidades dos EUA é importada da Europa e do Japão. Mesmo que não existam muitos fabricantes de robôs na América do Norte, existem diversos integradores de sistemas de robôs. O México configura com o segundo lugar na América do Norte, com aproximadamente 4.600 unidades.
O Brasil ocupa o estoque operacional número um da América do Sul, com cerca 15,3 mil unidades de robôs. As vendas se reduziram 17% de 2020 em relação a 2019, com cerca de 1.800 instalações – apesar deste cenário, um dos melhores resultados, quando comparado com remessa recorde em 2018.
Futuro da automação
O mercado de robôs tem muito a ser explorado no Brasil, ainda mais se referindo aos cobots. Dos tipos de tecnologia robótica disponíveis no mundo, os cobots têm se evidenciado como a tecnologia do futuro da automação. Dos 373 mil novos robôs instalados no mundo em 2019, 4,8% foram instalados em processos colaborativos. Apesar de este representar um pequeno percentual, a compra dessa tecnologia cresceu 11% em 2019 em relação ao ano anterior.
O relatório “O Futuro do Emprego”, publicado pelo Fórum Econômico Mundial no final de 2020, demonstra que, até 2025, serão gerados 10 milhões de novos postos de trabalho em todo mundo, em virtude da nova categoria envolvendo máquinas, humanos e algoritmos.
Entre os desafios da implementação da robótica no Brasil estão, entre outros: retorno de
investimento a médio e longo prazo, dificuldade de instalação dos robôs, conhecimento dos profissionais, entre outros. No Brasil, o tema referente ao retorno sobre investimento tem foco normalmente apenas no custo da mão de obra das tarefas que serão automatizadas, esquecendo-se da contabilização dos ganhos com essa tecnologia.
Estudos na Espanha e EUA evidenciam que as companhias que investem em robótica possuem maior crescimento a médio e longo prazo, provando que existem outros benefícios indiretos com a robotização.
Programação intuitiva
Comparado a outros equipamentos de automação, os robôs colaborativos possuem diversas vantagens com fácil instalação e programação intuitiva. Com isso, o TCO (Total Cost Ownership, ou custo total de propriedade, em tradução livre) de um cobot se torna inferior ao de um robô convencional, ou outro equipamento de automação, consumindo menos horas de engenharia devido à sua arquitetura. Os cobots são produtos cada vez mais essenciais na automação das fábricas de todo o mundo, permitindo a criação de um negócio sustentável e mais competitivo, além de proporcionar uma produção mais ágil e agregando valor aos processos industriais, com excelentes resultados a longo prazo.
Um fator importante a se considerar nesse cenário é o baixo conhecimento em robótica e automação de grupos de engenharia nas diversas empresas brasileiras. Com poucos profissionais qualificados para analisar condições, sugerir soluções e até mesmo avaliar os fornecedores nesta área. Com essa característica de profissionais, fica difícil evidenciar o custo-benefício a longo prazo para as empresas.
Este artigo foi escrito por Rafael Rubim de Castro Souza e Renan Rubim de Castro Souza. Rafael é mestrando em Políticas Públicas pela UFABC e atua como Especialista em Projetos de Investimento na InvestSP. Renan é especialista em MBA em Marketing e Gestão de Clientes pela USCS e atua como Especialista de Robótica Industrial e Colaborativa na OMRON Brasil. Fonte: Rede Brasil Atual
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