Do Brasil de Fato - "O que eles fizeram foi a coisa mais primária de qualquer réu culpado, tentaram apagar as provas", diz Roberto Tardelli
Um dos principais temas do último debate entre os candidatos ao governo de São Paulo, o episódio do tiroteio em Paraisópolis, zona Sul da capital paulista, durante visita de Tarcísio de Freitas (Republicanos) pode trazer prejuízos eleitorais e mesmo em âmbito judicial ao ex-ministro de Bolsonaro. A avaliação é do procurador aposentado e advogado criminal Roberto Tardelli.
"Esse episódio é suficiente para cassar a candidatura de Tarcísio, para colocá-lo na linha de investigação desse homicídio", disse, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, da Rádio Brasil Atual e TVT. "Nós temos um inocente morto, morador do bairro de Paraisópolis. Quando se descobriu o tamanho da encrenca, o que eles fizeram foi a coisa mais primária de qualquer réu culpado, tentaram apagar as provas, os indícios. Tentaram apagar as imagens que denunciariam esse complô medonho, sinistro", pontua o jurista.
Tardelli se refere ao fato de Marcos Andrade, cinegrafista da Jovem Pan, ter sido coagido a apagar imagens que mostravam o tiroteio. Áudio obtido pelo jornal Folha de S. Paulo traz Fabrício Cardoso de Paiva, agente licenciado da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que trabalha para a campanha de Tarcísio, perguntando: “Você filmou os policiais atirando?”. “Não, trocando tiros efetivamente, não. Tenho tiro da PM para o alto”, responde o profissional. Em seguida, o integrante da campanha do candidato bolsonarista ordena: “Você tem que apagar.”
Responsabilização de Tarcísio
Ex-promotor que trabalhou durante 31 anos no Ministério Público de São Paulo, Tardelli levanta a hipótese de que o ex-ministro pode ser investigado e mesmo responder a processo no âmbito penal em função do episódio. "O fato é que, das duas, uma: ou Tarcísio sabia e tem que ser processado por isso, criminalmente, sentar no banco dos réus, de acordo com o que diz o artigo 29 do Código Penal que quem, de qualquer forma, concorre para a prática de um crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. Se ele sabia desse complô, assumiu o risco de que alguma coisa pudesse acontecer, que alguém inocente poderia morrer, como de fato aconteceu", explica Tardelli. "Se ele não sabia, então temos um completo idiota concorrendo ao governo do estado mais importante da nação, cuja economia se compara quase à economia da Turquia", aponta. "Ou ele é um idiota ou ele é um criminoso, ele vai escolher o banco em que vai querer sentar, porque no banco dos inocentes não tem lugar para ele não."
Tardelli também lembra que o candidato do Republicanos é contrário ao uso de câmeras em uniformes dos policiais paulistas. O projeto “Olho Vivo”, iniciado em 2021, promoveu a instalação de câmeras corporais que gravam a rotina de trabalho dos agentes de segurança. "E ele, Tarcísio, quer retirar a câmera do uniforme dos policiais, medida responsável por 80% da queda de letalidade policial", contesta, lembrando ainda de outra política bolsonarista que aumentou o risco para os policiais, a flexibilização das normas de circulação de armas.
"Conheço vários delegados de polícia e eles estão apavorados. Antes as armas eram ilegais e ficavam escondidas em casa, arma ilegal ninguém carrega no carro. Com arma legal, a pessoa carrega aquilo como se fosse um troféu", pontua.
Confira a íntegra da entrevista abaixo.
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