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Braço direito de Pazuello escancara informalidade com que governo tratou pandemia


Foto: Alessandro Dantas

O depoimento do empresário Airton Soligo à CPI da Covid nesta quinta-feira (5) deixou explícito como o governo Bolsonaro desdenhou do combate à pandemia. Apontado como número 2 informal do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, Soligo atuou por meses antes de assumir oficialmente um cargo no órgão.


O modus operandi da atuação informal de Airton Cascavel, como Soligo é conhecido, repete a situação do também empresário Carlos Wizard, apontado pela CPI como um dos idealizadores do gabinete paralelo de aconselhamento do presidente.


Esse tipo de informalidade, na avaliação do senador Humberto Costa (PT-PE), além de configurar crime de usurpação de função pública, previsto no Código Penal, ajuda a explicar os motivos pelos quais o Brasil ultrapassou mais de 550 mil mortos e chegou, ontem, à marca de 20 milhões de infectados pela Covid-19.


“O senhor Wizard passou meses fazendo reuniões, tomando decisões, tomando propostas, fazendo planejamento de coisas estapafúrdias. Precisa ser incluído no relatório final o indiciamento dos responsáveis por esses tipos de prática. Um governo que permite esse tipo de coisa, que trata a coisa pública como se fosse o quintal de casa, precisa ser responsabilizado na forma da lei”, disse.


Mesmo antes de ser nomeado como assessor, Cascavel afirmou aos senadores que atuava na relação com parlamentares, governadores e prefeitos como uma espécie de “facilitador”.


Para Humberto, o relatório final da CPI precisa deixar clara a responsabilidade de Bolsonaro ao permitir que importantes decisões do país fossem tomadas informalmente em meio a maior crise sanitária do Século XXI.


“Esse é o governo da informalidade, em que o [Luis Paulo] Dominguetti é recebido pelo ministro da Saúde, que alguém se reúne na mesa de um bar para pedir propina. Isso tem que ficar claro para o Brasil no relatório final desta CPI”, enfatizou.


Cascavel admite politização na compra das vacinas

O empresário Airton Cascavel foi questionado pelos parlamentares sobre o início das tratativas no Brasil para compra de vacinas contra a Covid-19. Segundo ele, a primeira negociação para compra de imunizantes teria sido feita com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em junho ou julho de 2020.


Em relação às negociações para compra da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan, Cascavel afirmou que antes de 20 de outubro, data do anúncio da efetivação da compra da vacina do Instituto Butantan, já estava tudo pacificado para a compra do imunizante. Apesar disso, no dia seguinte, Bolsonaro anunciou a suspensão da aquisição. Cascavel disse aos senadores, sem dar muitos detalhes, que atuou para apaziguar a situação.

Em depoimento à CPI, no dia 27 de maio, o diretor do Instituto Butantan Dimas Covas afirmou que a entidade havia oferecido ainda em julho de 2020 ao governo Bolsonaro 60 milhões de doses da vacina que seriam entregues ao Ministério da Saúde e poderiam ter sido aplicadas na população já no último trimestre do ano passado.


Ao ser questionado se Bolsonaro havia sido responsável pela politização da questão das vacinas no país e atrasado o início do processo vacinal, Cascavel repetiu diversas vezes “não posso afirmar” e tentou, covardemente, generalizar a politização do tema.


Acerca das negociações com a Pfizer, que tiveram uma série de comunicações formais ignoradas por parte do governo Bolsonaro, Cascavel se esquivou e apenas afirmou que seu foco naquele momento era nas intermediações políticas e que as negociações das vacinas cabiam à Secretaria-executiva do Ministério.


Descaso com situação em Manaus

O empresário também relatou aos senadores que esteve duas vezes em Manaus e alertou os técnicos do Ministério da Saúde para o risco de recrudescimento da pandemia no início deste ano, quando houve a crise de desabastecimento de oxigênio.


De acordo com Cascavel, a pasta desenvolveu um plano para o enfrentamento da Covid-19 e enviou cerca de 90 respiradores para o estado. No entanto, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), lembrou que parte dos equipamentos não foi usada porque não contava com bombas de infusão e que houve omissão da pasta.


“Vocês todos cruzaram os braços. Aquela segunda onda que começa e tem falta de oxigênio poderia ter sido evitada. O grande problema foi a omissão. Com isso, tivemos o caos. Pelo recuo do lockdown. E quem fez esse recuo? Deputados bolsonaristas, o próprio presidente da República e o Ministério da Saúde, que não tinha autonomia”, disse Omar.

Bolsonaro é o principal responsável pelas mortes

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) apontou o presidente Bolsonaro como o principal responsável pelo genocídio causado pela política sanitária implementada pelo governo no combate à pandemia. Na avaliação do parlamentar, Bolsonaro colocou o general Eduardo Pazuello no cargo de ministro da Saúde unicamente com o objetivo de facilitar a disseminação de seu discurso negacionista.


“Pazuello não foi nomeado como ministro para salvar e cuidar de vidas. Ele foi plantado por Bolsonaro para calar o Ministério da Saúde e deixar correr solta a propaganda enganosa, a defesa da imunidade de rebanho e a busca pela ampliação do contágio, com o presidente indo a público dizer que a doença era uma gripezinha”, lembrou o senador.


De acordo com Rogério, o foco da tragédia sanitária e humanitária vivida pelo Brasil durante a pandemia está concentrada nas ordens dadas por Bolsonaro durante o período e a CPI tem comprovado isso com os depoimentos e documentos recebidos.


“Dia após dia ouvimos testemunhas que operaram, manipularam e esconderam a verdade para proteger um presidente que zomba da cara dos brasileiros e desqualifica instituições. Bolsonaro é o grande responsável por essa catástrofe sanitária que se abate sobre o Brasil e o genocídio de uma população indefesa que acreditou no seu presidente como sendo uma referência. E por esse crime ele deverá ser responsabilizado”, destacou.

Fonte: PT no Senado

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