
A agência de jornalismo independente Amazônia Real, com sede em Manaus, no Amazonas, manifesta solidariedade e apoio à jornalista Auxiliadora Tupinambá (Dora) e repudia os ataques misóginos, machistas e sexistas do apresentador José Siqueira Barros Junior, conhecido como Sikera Jr., da TV A Crítica (empresa da Rede Calderaro de Comunicação e retransmissora da Rede TV!), feitos contra ela tanto na rede social dele na internet como em seu programa “Alerta Nacional”.
Dora Tupinambá, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas, tornou-se alvo dos ataques na conta pessoal do apresentador no Instagram na quarta-feira (dia 04 de fevereiro). Ele fez primeiro uma mensagem incitando seus seguidores a tomar partido a seu favor e a atacar a jornalista, utilizando-se do alcance midiático e da larga audiência de seu programa:
“Essa é Dora Tupinambá, presidente do sindicato dos Jornalistas do AMAZONAS (sic). A que fez nota contra mim! Tá explicado!”. Sikera escolheu, sem permissão da jornalista, duas fotos nas quais estão as frases “Mulher não vota em Bolsonaro” e “Ele Não”.
Na mesma postagem, o apresentador incluiu uma foto de Marielle Franco, vereadora carioca assassinada em 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro, e cuja atuação e memória são reconhecidas internacionalmente. Sikera Jr. associou a imagem da vereadora à de Dora Tupinambá como se isto causasse alguma conotação negativa à jornalista – o que, na verdade, tratou-se de uma homenagem de Dora à Marielle. Deste modo, Sikera estendeu seu ataque à memória da vereadora.
Os ataques à Dora Tupinambá começaram após o dia 02 de fevereiro quando o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas divulgou uma nota repudiando as declarações de Sikera, divulgadas por ele próprio, em vídeo, nas quais ele faz ameaças aos funcionários da TV A Crítica e critica os profissionais do jornalismo de Manaus que têm um pensamento crítico.
Na nota, a diretoria do sindicato diz que a “fala do apresentador agride a função social e ética do jornalismo e os jornalistas; tenta enquadrá-los em uma percepção reducionista e deformada do que é o exercício jornalístico ao afirmar que na maioria das redações dos jornais e das TVs tem aqueles que ‘escrevem contra o país’ e ‘que só querem atrapalhar’”. Para o sindicato, “na condição de radialista e jornalista, Sikera desrespeita seus próprios colegas de profissão” e diz que ele tem “uma leitura atrasada” da área de comunicação.
A nota do Sindicato dos Jornalistas não é um posicionamento de Dora Tupinambá, mas uma manifestação coletiva da principal entidade representativa da categoria dos jornalistas do Amazonas, composta por homens e mulheres eleitos democraticamente por seus associados. Nos comentários, sem argumento qualificado para refutar a nota do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas, os seguidores do apresentador fazem xingamentos à aparência da jornalista, usam termos ofensivos e sexistas e questionam sua reputação e seu posicionamento político como se não estivéssemos num país democrático e isto não fosse um direito constitucional.
A repercussão da postagem das fotografias de Dora Tupinambá na rede social do apresentador levou sites locais a fazer matérias sobre o assunto. Sikera Jr. então fez o segundo ataque contra a jornalista, no dia 4 de fevereiro, durante a apresentação de seu programa, em rede nacional, utilizando-se de uma linguagem vulgar e sexista, de forte assédio moral. Trata-se de uma retórica agressiva que tem sido comum entre as autoridades do atual governo brasileiro de Jair Bolsonaro, ao qual ele defende. Referindo-se à matéria “Após nota de repúdio, Sikera Jr. atiça milícia virtual contra a presidente do sindicato” do site Amazonas 1, ele acusa o sindicato e a presidente da entidade de “vitimismo”, dizendo: “olha o drama!”.
“Aí hoje me mandaram a ficha do presidente do sindicato dos jornalistas. A mulher… meu Deus do céu, não vou nem falar o nome dela. Ô meu amor, me esquece”, diz ele, no programa. Ao final, manda “beijos para você”, a chamando de “feia”, numa clara demonstração de falta de maturidade para lidar com críticas.
O episódio de assédio e hostilidade contra Dora Tupinambá é mais uma demonstração dos ataques digitais nas redes sociais que os jornalistas brasileiros estão sofrendo desde as eleições de Jair Bolsonaro, praticados tanto pelo próprio presidente quanto por seus apoiadores. É preocupante que cada vez mais as mulheres jornalistas sejam o principal alvo dos ataques misóginos e difamatórios de detratores da ética e do exercício da profissão.
Na quinta-feira (05), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), por meio da sua Comissão de Mulheres, divulgou nota prestando solidariedade à Dora Tupinambá e repudiando os ataques à jornalista.
Diz trecho da nota da Fenaj: “Descontente com a manifestação pública do SJP-AM, Sikera Júnior divulgou, nesta quarta-feira (04/03), imagens da presidente do Sindicato no Instagram, em tom de deboche. O que se segue à postagem do apresentador é uma série de insultos e ofensas de cunho machista à jornalista, que é a representante do Amazonas na Comissão de Mulheres da FENAJ. A Federação repudia a atitude do apresentador de expor uma dirigente sindical e alimentar ataques em função do seu gênero”.
A Fenaj lembra que “as emissoras de televisão são concessões públicas e, portanto, seus funcionários devem cumprir a legislação brasileira e os tratados internacionais de Direitos Humanos dos quais o Brasil é signatário”. Sendo assim, “a Comissão de Mulheres da FENAJ exige da TV A Crítica que tome providências com relação ao comportamento de Sikera Júnior, que costumeiramente destila preconceito e ódio por onde passa”. (Leia a nota completa aqui)
Dirigida pelas jornalistas Kátia Brasil e Elaíze Farias, a Amazônia Real, na condição de primeira agência de jornalismo independente e investigativo criada por mulheres da Amazônia e de ser inflexível na defesa da equidade, da diversidade e dos direitos das mulheres, se solidariza com Dora Tupinambá, com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas e com as jornalistas mulheres que estão enfrentando situação de assédio, misoginia, sexismo ou qualquer tipo de violência no país.
Em defesa da ética, da justiça social, da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa, da equidade, da diversidade, da democracia brasileira e ao Dia Internacional de Luta das Mulheres, o 8 de Março, assinam essa nota:
Amazônia Real
Fórum Permanente das Mulheres de Manaus (FPMM)
Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB)
(Informe: as jornalistas, as empresas, as instituições de ensino ou as organizações que queiram assinar essa nota podem enviar e-mail para redacao@amazoniareal.com.br)
Fonte: Amazônia Real