Distantes dos grandes centros, comunidades ribeirinhas do Amazonas têm dificuldade de acesso a serviços como energia elétrica e abastecimento de água
Com a ajuda da ciência, a luz do sol pode ajudar no dia a dia de comunidades ribeirinhas da Amazônia. Foi na década de 1970 com a crise do petróleo que o sistema fotovoltaico começou a ser implantado em diversos do mundo.
A palestra intitulada “A experiência do GEDAE com aplicações da energia solar fotovoltaica: Atividades atuais e perspectivas futuras”, que ocorreu nesta quinta-feira, 20, na sede do Instituto Mamirauá, localizada em Tefé, estado do Amazonas, abordou o tema a pesquisadores, técnicos e colaboradores da instituição de pesquisa e o público em geral.
O palestrante convidado foi Wilson Negrão Macêdo, pesquisador do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará e pesquisador associado ao Grupo de Pesquisa em Inovação, Desenvolvimento e Adaptação de Tecnologias Sustentáveis (GPIDATS) do Instituto Mamirauá. Wilson Negrão desenvolve pesquisa na área de energia solar fotovoltaica e sistemas híbridos, no Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas da Universidade Federal do Pará (GEDAE/UFPA), onde coordena o Laboratório de Sistemas Fotovoltaicos.
Durante a apresentação, o pesquisador destacou experiências com a tecnologia ao longo dos 25 anos de existência do GEDAE e o fortalecimento da cooperação entre a UFPA e o Instituto Mamirauá para desenvolver atividades de pesquisas em áreas isoladas da Amazônia, além de sugerir a promoção de mais debates sobre a implementação da energia solar em comunidades ribeirinhas dessa região.
Pela proximidade com a Linha do Equador, a Amazônia apresenta um grande potencial na geração de energia solar e a captação traz grandes benefícios a comunidades mais distantes dos centros urbanos. A energia solar fotovoltaica é uma tecnologia que permite geração de renda e o direito a energia limpa e de qualidade.
“Mesmo os sistemas isolados comparados com outras fontes de energia semelhantes como o óleo diesel, eles também são economicamente viáveis, principalmente, quando você envolve uma atividade produtiva”, afirma Wilson Negrão Macêdo, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Sistemas isolados
Existem dois tipos de sistemas fotovoltaicos: os conectados à rede (chamados on-grid ou grid-tie) e os isolados da rede ou autônomos (off-grid). Com custos mais elevados que os sistemas on-grid, os sistemas isolados são caracterizados por não serem conectados à rede elétrica, ou seja, o sistema se auto sustenta através da utilização de baterias.
O sistema off-grid é utilizado principalmente para propósitos locais específicos, como, por exemplo, bombeamento de água, eletrificação de cercas, de postes de luz dentre outros locais. Durante o dia, em momentos em que a produção de energia supera o consumo, este excesso é enviado ao banco de baterias para que, à noite, quando o consumo é maior que a produção, essa energia possa ser utilizada para abastecer a rede ligada ao sistema. Algumas das vantagens desse tipo de sistema são a redução do consumo de combustíveis fósseis e o aumento da disponibilidade de energia.
A instalação dos sistemas seguiu as diretrizes da Resolução Aneel nº 83 de 2004 - Sistema Individual de Geração com Fontes Intermitentes (SIGFIs). Em agosto de 2005, foram instalados 19 sistemas, nas comunidades São Francisco do Aiucá e São Paulo do Coraci, localizadas nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, abrange os municípios de Uarini, Fonte Boa e Maraã (AM), e posteriormente, em maio de 2007, foram mais quatro sistemas, totalizando 23 sistemas instalados.
O objetivo é oferecer atendimento elétrico com sistemas fotovoltaicos aos domicílios de comunidades isoladas da Amazônia. Além disso, implantar um padrão de qualidade de atendimento, disponibilidade de 15 kWh/mês por domicílio, e um modelo de gestão, operação e manutenção. E, principalmente, dar subsídios aos programas de eletrificação de comunidades isoladas.
Famílias ribeirinhas da Amazônia beneficiadas com o sistema
Muitos moradores de comunidades ribeirinhas do Amazonas, distantes da zona urbana, lidam com a dificuldade de acesso os serviços como energia elétrica e abastecimento domiciliar de água. Buscar água no rio para as atividades domésticas e para consumo e a falta de energia elétrica ainda fazem parte da rotina de parte desta população.
O estudo do Instituto Mamirauá avaliou a percepção dos usuários do Sistema de Bombeamento e Abastecimento de Água e do Sistema de Energia Domiciliar, ambos movido a energia solar fotovoltaica, implementados há mais de 10 anos pelo instituto como tecnologias experimentais que pudessem servir de referência ao poder público para o fornecimento de água e energia para esta população.
Foram entrevistados 47 usuários das tecnologias das comunidades São Francisco do Aiucá e São Paulo do Coraci, localizadas nas reservas de desenvolvimento sustentável Mamirauá e Amanã, abrange os municípios de Uarini, Fonte Boa e Maraã (AM).
“Essas comunidades estão inseridas em duas unidades de conservação que têm suas regras de uso, uma legislação que ampara todo este território. São territórios de conservação, onde há a atuação de diversos agentes nessas áreas”, comentou Ana Claudeíse Nascimento, socióloga e pesquisadora do Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
O GEDAE
O Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas (GEDAE) é vinculado ao Instituto de Tecnologia (ITEC) e à Faculdade de Engenharias Elétrica e Biomédica (FEEB), da Universidade Federal do Pará (UFPA). O GEDAE foi fundado em primeiro de novembro de 1994 pelo Prof. Dr.–Ing. João Tavares Pinho e por ele coordenado até maio de 2018, quando se aposentou oficialmente e passou a coordenação para o seu vice coordenador, Prof. Dr. Edinaldo José da Silva Pereira.
As principais finalidades do grupo são: desenvolvimento de tecnologias de baixo custo para atendimento de energia elétrica a pequenas e médias cargas com o uso de energias renováveis; o levantamento de demandas e potenciais energéticos; o desenvolvimento de pesquisa sobre eficiência energética e uso racional, conservação e qualidade de energia; a avaliação e etiquetagem do nível de eficiência energética em edificações; a disseminação do conhecimento por meio dos cursos de graduação e pós-graduação, palestras e seminários sobre fontes renováveis de energia e suas aplicações, e a prestação de serviços na forma de consultoria e cursos à comunidade em geral.
Fonte: Instituto Mamirauá - por Augusto Gomes