A criação de abelhas nativas sem ferrão oferece uma série de benefícios ao produtor, que pode utilizar de seus produtos (mel, pólen e própolis) e simultaneamente trabalhar em prol da biodiversidade do planeta. Confira três motivos para começar a criar abelhas nativas sem ferrão:
1. Fácil manuseio
Por não possuírem ferrão, como a temida Apis melífera, as abelhas nativas não exigem equipamentos sofisticados de proteção individual em sua criação – a meliponicultura. A jataí (Tetragonisca angustula), por exemplo, uma das abelhas nativas mais comuns do país, apesar de territorialista com outras espécies, é mansa com seres humanos.
Não se engane, entretanto: as nativas, como a apis, também protegem suas próprias colmeias. Recentemente, 'abelhas-soldados', que guardam a entrada da colônia, foram identificadas em algumas espécies, como a mandaçaia (Melipona quadrifasciata), uma das mais criadas no Brasil.
A mandaçaia também pode se enrolar nos cabelos e pelos do invasor, assim como a Borá (Tetragona clavipes). Ainda assim, nada comparado à ferroada.
Alguns costumes de proteção são um tanto curiosos: a abelha lambe-olhos (Leurotrigona Muelleri) é minúscula (tem aproximadamente 1,5mm) e retira resina armazenada na colmeia para grudar nos invasores a fim de imobiliza-los
2. Importância na agricultura
Ao visitar cada flor à procura de alimento, as abelhas realizam serviço essencial para o desenvolvimento das culturas agrícolas: a polinização.
A abelha mirim (Plebeia sp. Aparatrigona impunctata), por exemplo, é uma das responsáveis pela polinização do cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum). Altamente apreciado, o cupuaçu é uma fruta bastante utilizada in natura, sucos e doces na região amazônica.
O técnico do Programa de Manejo de Agroecossistemas do Instituto Mamirauá Jacson Rodrigues afirma que agricultores das comunidades ribeirinhas da região do Médio Solimões, na Amazônia Central, onde o instituto atua, passaram a criar abelhas nativas como forma de aprimorar a produção. "Quando eles perceberam essa relação, demonstraram ainda maior interesse”, afirma.
Vale ressaltar que o contato com as abelhas nativas sem ferrão não é novidade. Sabe-se
que etnias indígenas já utilizavam dos produtos das abelhas, posteriormente atestados como terapêuticos pela ciência.
Os ribeirinhos da Amazônia também já se relacionam com essas espécies, que eles chamam de ‘jandaíra’. “Eles já têm um contato muito próximo com essas espécies, mas precisam desse impulso inicial para começarem a criar”, afirma o técnico, que oferece cursos de meliponicultura nas comunidades das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã. As capacitações ensinam práticas como divisão de enxames e manufatura de caixas de enxames.
3. Manutenção da biodiversidade
A biodiversidade encontra-se sob ameaça. Os impactos causados pelo aquecimento global e pelas práticas comerciais insustentáveis são muitos e colocam fauna, flora e humanos em risco.
A criação de abelhas nativas sem ferrão ajuda na conservação das espécies de abelhas e das plantas dependentes da polinização. Só a Amazônia possui cerca de 130 espécies de abelhas catalogadas.
O trabalho realizado pelo Instituto Mamirauá nessas comunidades já colhe bons resultados. “A prática da retirada do mel na floresta tem sido realizada pelos ribeirinhos, tomando cuidado com os ninhos para a sua manutenção e para a conservação das abelhas”, atesta a cartilha lançada pela organização, Manejo de Abelhas Nativas Sem Ferrão na Amazônia Central.
O Programa de Manejo de Agroecossistemas do Instituto Mamirauá
Desde 1994, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá realiza pesquisas e oferece assessoria técnica com o objetivo de aumentar a sustentabilidade e produtividade dos agroecossistemas da região.
A abordagem do trabalho do Programa de Manejo de Agroecossistemas (PMA) prioriza a manutenção dos recursos naturais do agroecossistema como forma de manter a vitalidade socioeconômica e cultural dos agricultores e suas comunidades. As propostas de intervenções são desenvolvidas de modo a adequar-se à realidade e prioridades dos produtores ribeirinhos.
Esse direcionamento ocorre por meio do conhecimento do manejo tradicional, da identificação dos potenciais e limitações dos produtores e seus sistemas e da construção participativa de soluções e experimentações. Para tanto, o PMA promove capacitações e assessoria à atividade como um todo, desde o plantio à comercialização, apoiando o processo de organização comunitária.
Fonte: Instituto Mamirauá - por Júlia de Freitas