O juiz/cabo eleitoral falou pela primeira vez como ministeriável de Jair Bolsonaro, em Curitiba, nesta terça-feira (6). A entrevista foi marcada por elogios a colegas e a Bolsonaro, e respostas vazias a respeito da perseguição a Lula.
Também não ficou clara como será a atuação à frente do superministério entregue pelo pesselista. Moro evitou discordar publicamente das principais bandeiras de Bolsonaro: posse e porte de armas, maioridade penal e até ditadura, mencionando “convergências” entre os dois, defendendo que o presidente tem sido moderado.
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Anti-Lula, pró-Bolsonaro
Moro afirmou aos jornalistas que Lula está preso porque “cometeu crimes”, mas sua sentença fala apenas em “atos de ofício indeterminados”. Ou seja: não está especificado quais as ilegalidades que Lula, segundo ele, teria cometido em troca do tríplex (que nunca foi do ex-presidente e está em nome de uma empreiteira).
Ao contrário, o juiz é quem atropelou a lei. Moro forçou Lula a depor cercado de policiais armados. Vazou gravação de grampo ilegal. Condenou sem provas. A sentença é confirmada em tempo recorde por amigos do juiz no TRF-4. Preso político, o líder das pesquisas é impedido de concorrer.
Terminam as eleições, e o segundo colocado lhe oferece um superpoderes num ministério. O juiz larga a magistratura e aceita.
Mesmo diante desses fatos, ele não considera que o caso de Lula e não é motivo atrapalhar seus planos. “Não posso pautar a minha via com base numa fantasia, num álibi falso de perseguição política”, disse.
Ainda sim, não conseguiu esconder a parcialidade: ao justificar o vazamento da delação sem provas de Antônio Palocci às vésperas da votação de primeiro turno, afirmou que “não tinha o direito de esperar as eleições”. Já sobre o depoimento de Lula que fora adiado, o fez porque “poderia haver exploração política indevida”.
Equipe unida no Planalto
Moro não disse o nome de Bolsonaro nenhuma vez, mas fez elogios rasgados e defendeu o agora chefe em vários momentos, dizendo que ele é “sensato” e “ponderado”.
Também minimizou a preocupação de indígenas, negros LGBTs e outras minorias. Na visão dele, as ameaças de Bolsonaro foram declarações “não muito felizes” colocadas “fora de contexto” pela imprensa. “Não vejo nada além de receios infundados”.
Questionado sobre a simpatia de Bolsonaro e do governo pela ditadura, ele gaguejou ao chamar 64 de golpe e desconversou por não achar “salutar” falar do assunto. “Não to assumindo ministério pra discutir fatos da década de 60 ou 70.”
Noutra resposta, considerou que os jornais e revistas fizeram uma cobertura “muito crítica” a Bolsonaro. Embora tenha elogiado pelo trabalho dessa mesma imprensa com a Lava Jato.
Pareceu não ter problemas em conviver com investigados e condenados no corpo ministerial. Questionado sobre Onyx Lorenzoni, que confessou ter recebido caixa 2, ele disse ter “grande admiração” pelo futuro chefe, e considerou que ele já se desculpou e se corrigiu.
Moro também minimizou as acusações a Paulo Guedes, investigado por enriquecer manipulando fundos de aposentadoria. Para Moro, as provas no processo contra Guedes são “incipientes” e o futuro ministro lhe pareceu “bastante dedicado e competente”, além de “extremamente correto”.
Exoneração adiada por salário
Ao invés de entregar o cargo de juiz desde já, como havia prometido quando anunciou o sim a Bolsonaro, Moro achou melhor tirar férias. Vai usar o tempo livre para negociar seu ministério. Juristas renomados veem infração, já que as funções políticas nada tem a ver com a magistratura.
Questionado, admitiu que mudou de ideia para continuar recebendo salário e auxílio-moradia por mais dois meses. “Não enriqueci no serviço público, preciso do salário”, justificou. Os vencimentos de Moro como juiz já passaram de 100 mil reais (veja o demonstrativo abaixo.)
Atuando no Conselho de Transição do governo (aquela que não tem nenhuma mulher), o salário mais alto é de 16 mil reais.
Fonte: APT de Notícias/Foto: Agência PT