A maior coleção de mamíferos da Amazônia está no Museu Paraense Emílio Goeldi. Criado no final do século 19, o acervo reúne cerca de 45 mil registros, abrigando diversos exemplares de espécies ameaçadas de extinção. “É o terceiro maior da América Latina, e há muitos exemplares que ainda não foram estudados. Entre as razões para isso, podemos mencionar a falta de especialistas em determinados grupos taxonômicos e a identificação imprecisa ou incompleta de alguns exemplares”, afirmou a pesquisadora Alexandra Bezerra, que fez um estudo sobre o acervo do Goeldi.
Segundo a pesquisa, a região Neotropical, que abrange desde a parte sul da América do Norte até a América do Sul, reúne entre 12 e 19 espécies da família Felidae. Só o Brasil registra a ocorrência de 10 espécies de felinos, sendo os mais populares a onça-pintada (Panthera onca), a onça-parda (Puma concolor) e a jaguatirica (Leopardus pardalis).
A coleção de mamíferos do Museu Goeldi reúne 245 exemplares de felinos, incluindo 210 crânios, 53 peles, 10 esqueletos e duas peças anatômicas. O acervo é representado por 90% das espécies de felinos silvestres do Brasil. De acordo com a pesquisadora, oito das nove espécies de felinos registrados no acervo do Museu Goeldi estão em alguma categoria de ameaça na Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (Ministério do Meio Ambiente / ICMBio).
“A maior parte dos espécimes de felinos do acervo tem procedência antiga e se concentra em algumas regiões, como a margem sul do rio Amazonas, no Pará. Isso significa que algumas espécies eram abundantes na região, o que pode ser confirmado com estudos voltados para a diversidade e a abundância desses grupos. Para esse tipo de estudo, coleções com boa representatividade temporal tornam-se fundamentais”, afirma Alexandra Bezerra.
Gato-do-mato
A pesquisa resultou ainda no primeiro registro formal para o estado de Rondônia do gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus), que está entre as menores espécies de felinos do Brasil. As proporções corporais e o porte do animal se assemelham ao do gato doméstico.
Até então, a espécie do exemplar depositado na coleção de mamíferos do Museu Goeldi não estava identificada, o que pode ser feito agora. Na Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, a situação do Leopardus tigrinus é definida como “em perigo”.
“Esse é o primeiro registro do Leopardus tigrinus com um espécime-testemunho. O que se tinha antes, a partir de livros e catálogos, eram as manchas de distribuição geográfica. Não havia uma publicação relacionando a presença da espécie em Rondônia como um registro factual. Agora, com a devida catalogação da espécie no acervo do Museu Goeldi, podemos comprovar a existência do gato-do-mato-pequeno naquele estado”, explica a pesquisadora.
Divulgação de acervos
A pesquisa é resultado do projeto “Roedores do estado do Pará: padrões de distribuição e o papel das coleções biológicas”, desenvolvido desde 2016 com financiamento do Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional (Fapespa/CNPq/DCR).
Diante da importância da coleção de mamíferos do Museu Goeldi, o projeto tem colaborado com a curadoria do acervo e busca aumentar sua representatividade taxonômica e numérica.
Após a pesquisa com os felinos, a equipe se dedica agora ao estudo de outros grupos de mamíferos, como os canídeos e ungulados cervídeos. Está prevista ainda a elaboração de um catálogo dos espécimes-tipo de mamíferos que fazem parte da coleção do Museu Goeldi.
Fonte: MCTIC/Foto - (Crédito: Museu Goeldi)