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Aumento dos casos de filhotes de peixes-bois presos em malhadeiras preocupa o Inpa


Cimone Barros (texto e foto)

O Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Inpa trabalha para lançar campanha para sensibilizar pescadores e comunitários sobre como proceder nos casos de captura acidental. Situação ameaça a espécie, além da caça ilegal e degradação ambiental

O aumento da captura acidental de filhotes de peixes-bois-da-amazônia em redes de pesca no Amazonas, nas últimas semanas, preocupa cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC). Do dia 31 de maio até meados de junho foram cinco capturas de filhotes da espécie ameaçada de extinção, dos quais três já chegaram ao Instituto e estão sob cuidados. Em um ano, o Inpa recebe de 10 a 12 animais.

De acordo com o veterinário Anselmo D’Affonsca, o estado geral dos animais é bom, mas por serem muito pequenos inspira cuidados. “Antigamente a gente recebia quase 80% dos filhotes em péssimas condições, hoje é o contrário”, contou.

A instituição está planejando uma campanha de sensibilização para orientar pescadores e comunitários a como proceder no caso de captura acidental de filhotes de peixes-bois em redes de pesca, a mais comum é a malhadeira. Se o filhote ficar preso na malhadeira e aparentemente está em bom estado de saúde, ainda que com pequenos arranhões e cortes superficiais, a orientação é soltá-lo imediatamente porque a mãe pode estar próxima, mesmo que a pessoa não a veja. O animal possui “ótima cicatrização”.

“Essa é uma espécie que tem um cuidado parental forte e dificilmente a mãe abandona. Muitas vezes, o filhote cai na malhadeira colocada no capinzal e nas bordas do igapó, mas a mãe pode estar perto”, explicou a chefe do Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Inpa, a pesquisadora Vera Silva. “Se a mãe estiver por ali, ela vai chamar o filhote e ele vai na direção da mãe. Porém, se tirar o filhote do local, a mãe não vai mais ouvir e vai embora”.

De acordo com o veterinário Anselmo D’Affonseca, o resgate para transportar o animal para o Inpa é indicado nos casos em que o filhote de peixe-boi está muito magro, com ferimentos graves e cortes profundos. “Ou ainda filhotes que aparentam estar com problemas, como ficar boiando ou virar de barriga para cima”, orientou.

Os resgates são feitos pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). O estado geral dos três animais que chegaram nos últimos 15 dias ao Inpa é bom, mas inspira cuidados. Eles são os primeiros filhotes resgatados este ano e vieram de Urucará, Itacoatiara e Tefé. O Inpa está aguardando chegar outro animal de Itacoatiara e um quinto filhote que viria do Careiro da Várzea, na última sexta-feira, caiu na água e sumiu, após o banzeiro alagar a canoa que em que estava sendo transportado.

veterinário Anselmo D’Affonseca

Conforme o veterinário, a espécie mama até os dois anos e a chance do filhote que fugiu sobreviver sozinho na natureza é mínima, caso não encontre a mãe. “Nos tanques do Inpa já houve caso de uma fêmea que perdeu o bebê adotar um filhote”, conta D’Affonseca. “Também existe a possibilidade de em alguns dias esse mesmo filhote ser encontrado por ribeirinhos”, completou.

No Instituto, os filhotes ficam até os dois anos no berçário do Parque Aquático Robin C. Best, Bosque da Ciência, onde recebem mamadeira com fórmula artificial desenvolvida pela Inpa, depois são desmamados e vão para o tanque maior, onde permanecem de dois a três anos até entrarem no Programa de Reintrodução de Peixes-Bois.

Reabilitação

Atualmente, há 56 peixes-bois nos tanques de Manaus (área de cativeiro), 18 deles filhotes. Na fazenda de Manacapuru (município a 68 quilômetros de Manaus) estão outros 13 animais que passam pelo processo de preparação (semicativeiro) antes da soltura definitiva na natureza. Há mais de 40 anos o Inpa trabalha com a reabilitação e pesquisas com esses animais.

Conforme D’Affonseca, a reprodução do peixe-boi está associada ao ciclo hidrológica da Amazônia. O pico dos nascimentos ocorre de fevereiro a maio quando as águas já subiram e há uma farta oferta de alimento para as fêmeas que estarão em período final de gestação ou amamentando, o que exige alta demanda energética. “Mês de junho não é comum recebermos filhotes. Isso acontece nos meses anteriores, e ainda estamos tentando entender o que houve para recebermos essa ‘chuva de filhotes’ agora”, contou.

Herbívoros, na natureza os peixes-bois se alimentam de plantas aquáticas como capim membeca, capim-navalha e mureru. No cativeiro, o cardápio é complementado com vegetais como abóbora, cenoura, feijão de metro e couve.

Mamífero aquático mais caçado do país, o peixe-boi enfrenta ainda outras ameaças como a destruição e degradação ambiental. A caça do animal é proibida desde 1967, porém a carne ainda é muito apreciada na região, exigindo um intenso trabalho de sensibilização ambiental e de fiscalização.

Saiba mais

A reprodução do peixe-boi começa tarde, por volta dos dez anos de idade, com a gestação levando 12 meses. A fêmea dá a luz a apenas um filhote a cada três anos e amamenta o filhote por dois anos. Parente do elefante, o peixe-boi adulto pode medir até três metros de comprimento e chegar a quase meia tonelada. Na natureza, o peixe-boi pode viver até 60 anos. No cativeiro do Inpa tem animal com mais de 40 anos.

Fonte: INPA - por Cimone Barros (texto e foto)

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